sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Fast food x Slow food: retomando o prazer

"Bom é não fumar. Comer, só pelo paladar. Comer de tudo que for bem natural. E só fazer muito amor, que amor não faz mal" (Joyce)


Antes de falar de estratégia, acho interessante contar um pouco sobre como cheguei aqui.
Comecei a sentir os efeitos negativos da pressa excessiva no jornal onde trabalhava como editora. Exigia muito, e de todos. Na verdade, acho que eu já vinha agindo assim por um longo período e nem percebia.
Sentira um estalo havia uns dois anos, quando uma amiga, num almoço, comentou: “Sempre com pressa! É para não perder o hábito?”. Não gostei do comentário jocoso, mas percebi que ela tinha razão. Embora tivesse tempo suficiente para desfrutar a refeição saborosa no aconchegante restaurante japonês, preferi comer em cinco minutos. E voltei à redação vazia, recolhendo-me, sozinha, ao meu “aquário” com vista para a principal avenida da cidade. Apenas observava as pessoas indo de um lado para outro, a vida passando, e eu ali.
Era como se eu não me sentisse merecedora de relaxar e simplesmente comer bem. Nem preciso dizer que eu vivia de fast food. Almoçava sanduíches, iogurte para beber, macarrão instantâneo, pastel, tudo o que fosse rápido. Certo dia, navegando pela net, descobri a slow food. De cara, aquele negócio me pareceu estranho, algo como ter de mastigar 500 vezes uma folha de alface, e só de pensar me deixou irritada. Mas a curiosidade foi mais forte e resolvi conhecer.
Trata-se de um movimento que segue o conceito da chamada “ecogastronomia”, unindo o prazer e a alimentação com consciência e responsabilidade. Conscientes da relação entre o prato e o planeta, o praticante se sente melhor, conseguindo até eliminar probleminhas gastrointestinais típicos dos apressadinhos. Veja mais no site http://www.slowfoodbrasil.com/, que traz tudo o que você precisa para adotá-lo no dia-a-dia.
Algo em mim me impedia de sentir o prazer de saborear um delicioso sushi em paz, na sagrada hora do almoço. O resgate do prazer de comer me remontou a uma palestra com a divertidíssima psicóloga Ana Canosa, que cobri como assessora de imprensa. Falando sobre “Sexualidade na Adolescência” para profissionais de saúde, ela abordou que quando falta prazer na própria vida, certas pessoas tendem a condenar os que são felizes. Ilustrou com uma cena ótima: um casal de jovens em pleno “amasso” no muro da escola e aquela mulher que passa, olha, torce o nariz e faz “tsk, tsk” com um ar de reprovação - na verdade, inveja disfarçada de moralismo.
Trouxe isso para a minha realidade. Meu ritmo de trabalho não era o dos outros e o pior era ocupar cargo de chefia. Não admitia dispersão e, no início, até protestava. Depois, preferia me fechar em meu mundo de workaholic. Sentia-me deslocada, injustiçada e aquilo me deixava mal. Cheguei a me desentender com algumas pessoas e o clima foi ficando cada dia mais pesado até a inevitável demissão.
Observando o passado à luz de Ana Canosa, acho que faltava mesmo prazer na minha vida. Levar as coisas menos a sério e não só trabalhar, mas também rir, cantar, tomar um café sem culpa. E era em busca desta leveza que eu tentava emergir das turbulentas águas da ansiedade.
“Mulher-urgente” virou meu apelido no outro emprego. Tudo parecia natural, afinal sou jornalista, do tipo “Pra ontem!”, e aquela era só mais uma gozação da tribo. Mas isso começou a me incomodar. Tanto que parei, decidi mudar e comecei por fazer uma auto-análise para tentar desvendar a origem do problema.

Um comentário:

  1. Mastigar 500 vezes?? Uma loucura, não?? Mas interessante mesmo. Não havia ouvido sobre isso antes.
    Pude conhecer bem este ambiente do qual falas, da época de editora. Mas, apesar da correria necessária e invevitável desta profissão (que aprendi já no primeiro dia de faculdade que é onde se ganha pouco e morre cedo), aprendi também que é possível dar um break e dizer "agora vou curtir um pouco".
    Afinal, em diversos segmentos há estas necessidades e cobranças. Por exemplo, em casa, quando há a neura por limpeza. Mas tem dias em que é preciso dizer "vou deixar a limpeza da casa para amanhã. Não morrerei por conta disso".

    Beijo, Nádia!

    ResponderExcluir