terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Pais no piloto-automático e crianças invisíveis


“É só de ninar, e de desejar que a luz do nosso amor, matéria-prima dessa canção, fique a brilhar. E é pra você, e pra todo mundo que quer trazer assim a paz no coração. Meu pequeno amor” – (“Gabriel”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

Filhos exigem muito, mas se doam muito mais. Quando uma criança está com seu pai ou mãe sua atenção é só para eles, mas o inverso poucas vezes é verdadeiro. Na correria entre casa, trabalho e um tempo para nós – afinal, não somos de ferro – perdemos o foco. Reservamos o mínimo de tempo para curtir e prestar atenção às pessoas que geramos.
Com tantos compromissos na agenda e deveres na cabeça, dirigimos o carro rumo à escola e à creche com a mente voando longe. Nem notamos que eles estão ali, na cadeirinha, dormindo, ou sentados no assento adaptado. Só quando choram ou fazem alguma travessura, como jogar lixo pela janela, cortam nossos devaneios e olhamos pelo retrovisor aqueles rostinhos carentes, via de regra para mandar parar ou fazer silêncio.
Já pensou que maravilha seria se só o carro tivesse piloto-automático, e não pessoas? Eles iriam guiando sozinhos até os destinos enquanto nós, no banco de trás, conversaríamos alegres com nossos filhos em manhãs ensolaradas. Infelizmente, no mundo real, a pressa e a alienação do mundo moderno levam a tragédias, com bebês esquecidos em carros fechados.
Desatentos estamos também com nossos adolescentes. Aprendi a usar o Orkut para fazer parte do universo do meu filho de 16 anos. Não que eu não consiga falar com ele pessoalmente, mas foi uma forma de descer do palco e entender o mundo dele. Recentemente, assisti ao filme “Os Cavaleiros do Apocalipse”, que retrata bem isso: um investigador viúvo deprimido (Dennis Quaid), que vive para o trabalho e permanece alheio à família, não se dá conta da crise emocional do filho mais velho até o desfecho surpreendente. Não raro o jovem com problemas dá sinais em casa, mas ninguém percebe ou finge não ver.
Da próxima vez que estiver com seu filho, seja ele bebê, criança ou adolescente, veja-o de fato. Desfaça a névoa das responsabilidades que obstruem a visão. Mesmo que por alguns minutos, esteja realmente com ele, brincando, olhando nos olhos, beijando, ouvindo.
Tenho três filhos. O mais velho, adolescente; o do meio, uma criança de 3 anos; e o caçula, um bebê, além da minha enteada, também adolescente. Trabalho o dia todo e, quando chego, tenho duas horas para fazer o jantar, sentar para ver Cocoricó, assistir um trecho do animê Trigun (consegui completar o Death Note!!!), um pedacinho da Hanna Montana ou um clipe do You Tube e amamentar, antes que todos vão para a cama. Quando vou amamentar, o exige total absorção e paciência, respiro fundo e esqueço do resto porque o tempo é dele, não meu. Vivo me policiando. Não é fácil.
Só que, como Beto Guedes na canção que fez para seu filho Gabriel, citada acima, eles são a luz da minha vida. Não há nada mais importante que ouvir os sons de suas risadas: o mundo pára e tudo o mais fica invisível. Assim deve ser. O amor é exigente e cobra consciência e paciência, acima de tudo. Seja feliz e preste atenção aos seus filhos. Que possamos proteger a infância de todas as formas porque só neste curto período da existência o ser humano consegue se aproximar do divino.

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