quarta-feira, 30 de junho de 2010

Inteligência emocional

"De que vale teu cabelo liso
e as ideias enroladas dentro da tua cabeça?"
(Ana Carolina)

Não sei quantas vezes já saí do sério, o vulgo "piti", por não dimensionar bem uma situação e me sentir sobrecarregada. Nessas explosões de raiva e impotência, o raciocínio fica em algum lugar perdido dentro de um ser em ebulição. No meu caso, parece que entro em transe, minha capacidade lógica desaparece completamente e eu me desespero no mais profundo abismo da ignorância. Um surto. Buraco negro, em queda livre.
Tudo começa com uma carga que eu não consigo suportar, mas que vou carregando mesmo assim, dia após dia, hora após hora. Negligencio cuidados emocionais enquanto, paradoxalmente, acentuo os cuidados físicos com cremes, shampoos, perfumes, batons, como se isso fosse trazer algum alívio ou força. (Diga lá: não é nesta hora que consumimos mais? Nossos contracheques e extratos bancários com cifras vermelhas não são termômetros desta carência?) Sorriso no rosto, quantas vezes nossa vontade era berrar que detestamos uma situação ou pessoa, que está além da nossa capacidade de tolerância? E passamos batido...
Num momento banal - a chave perdida, o pneu furado, a pane no micro - tudo despenca e a fragilidade, até então oculta pela racionalidade, mostra quem somos de fato. E quem somos de fato? Humanos.
Nosso cérebro superior ao dos nossos irmãos mamíferos nos faz crer que somos algo entre o divino e o mágico. Criamos a fantasia de termos superpoderes. É a mãe que se acha a própria Mulher Elástico, com braços que esticam e alcançam filhos, tarefas do trabalho e afazeres de casa. É o homem que se vê como o Super Man, indestrutível. Mas, sinto dizer, somos de carne e osso exatamente como os nossos irmãos mamíferos. Temos necessidades comuns: de alimento, água, calor, sexo, afeto, sono, paz.
Quando a mente cria fantasias de poder extremo, o corpo não só padece com doenças (várias vezes me senti como à beira de um ataque cardíaco ou um AVC) como se rebela, fazendo outra coisa, pegando outro atalho por conta própria e gargalhando dos pobres neurônios.
Se compreendermos melhor esse complexo mecanismo que nos faz humanos, embora animais como os outros, podemos não apenas melhorar nossas relações interpessoais como ter mais qualidade de vida. Ando estudando esse tema, inteligência emocional, para saber dosar emoção e razão. Conseguir encontrar paz em meio ao caos, manter o pensamento calmo diante dos desafios, controlar emoções.
Hoje cedo tive um piti e acabo envolvendo muita gente ao redor. Na véspera, antes de dormir, li mais uma página do livro que elegi como guia para desbravar esse caminho. Mas, calma, só estou no primeiro capítulo. Das duas, uma: ou chego ao fim do livro transformada, ou ele vai para o armário de autoajuda onde adormecem livros sobre respiração, ioga, terapias alternativas... Ótimas leituras, mas algo me diz que só a prática diária de prestar mais atenção em nosso próprio ser vai surtir algum resultado. Por enquanto, essa é mais uma promessa de ano-novo e olha que já estamos no segundo semestre. O que posso fazer no momento é respirar fundo, distribuir desculpas e ir adiante. 

segunda-feira, 7 de junho de 2010

É junho

"Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento..."
(Alceu Valença, Junho)



É junho e nem parece que chegamos ao meio de um ano que mal começou. Será que o tempo anda mesmo acelerado ou nós, acelerados que somos, mudamos nossa percepção de tempo?
O fato é que os dias se vão com uma rapidez impressionante e, paradoxalmente, o relógio se arrasta quando queremos que ele gire demais. Mesmo crendo que o dia devia ter mais de 24 horas, não temos poder para flexibilizar minutos ou segundos ao nosso bel prazer. Mas podemos desfrutar, com prazer, todo o tempo que temos.
Uma vida humana pode durar 80, 90 anos - se nada de errado antecipar a morte que chega naturalmente.
Um parênteses: semana passada encontrei um senhor de 100 que pediu para botar boné antes de ser fotografado, não sei se por vaidade ou respeito. Ao clicá-lo, senti a mesma emoção de contemplar um recém-nascido, no milagre da vida. Aqueles olhinhos cansados, a pele enrugada, o cabelo branquinho e a serenidade de quem já presenciou muitas coisas. E a pureza infantil que parece coroar pessoas muito idosas.
Se a existência é finita porque desperdiçar um tempo precioso com ansiedade, com o chumbo de um velho pensamento, como diz Alceu?
Neste mês de junho, ao invés de lamentar o ano que caminha para o fim, o convite é buscar alegria nas mínimas coisas do cotidiano. É tempo de frio, aconchego, bebida quente, a alegria das festas típicas, o entusiasmo do futebol. Entre amigos, queridos, família. Curta as crianças: elas crescem!
Aproveite. Saboreie cada segundo. Porque passa, e deve deixar saudade.