sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amigos

"- Olá! Como vai?

– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa; é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
(...)
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...

– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança..."
(Sinal fechado, Paulinho da Viola)

A você, meu amigo, dedico este artigo. Talvez porque ontem morreu um amigo querido. Morreu simplesmente e eu nada pude fazer a não ser compor uma nota de pesar.
Escrevo este artigo para dizer o quanto te amo, mesmo que eu também só ande a cem. Sem tempo para um café, sem tempo para telefonemas. Vagando entre um compromisso e outro, em busca de um sono tranquilo, correndo para pegar meu lugar no futuro.
Meu amigo morreu antes que eu pudesse lhe perguntar se eu podia ajudar. Antes mesmo de eu lhe oferecer meus ouvidos, meu ombro, minhas mãos.
Penso em quantos amigos encontrei nos semáforos da vida. Aqueles segundos de sinal vermelho em que apenas dizemos que não, não esquecemos do outro, que vamos marcar de se ver. E a vida passa. E com ela a chance de sermos solidários de fato, a chance de proteger a amizade como a ave protege seu ninho. Mas o sinal abre, e o sonho se vai, as promessas se dissolvem, os dias passam, a vida corre.
Ali, no frio do asfalto, congelada naqueles instantes, fica a distância entre intenção e gesto. E a amargura de um imenso vazio.