sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amigos

"- Olá! Como vai?

– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo... Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa; é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
(...)
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das ruas...

– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança..."
(Sinal fechado, Paulinho da Viola)

A você, meu amigo, dedico este artigo. Talvez porque ontem morreu um amigo querido. Morreu simplesmente e eu nada pude fazer a não ser compor uma nota de pesar.
Escrevo este artigo para dizer o quanto te amo, mesmo que eu também só ande a cem. Sem tempo para um café, sem tempo para telefonemas. Vagando entre um compromisso e outro, em busca de um sono tranquilo, correndo para pegar meu lugar no futuro.
Meu amigo morreu antes que eu pudesse lhe perguntar se eu podia ajudar. Antes mesmo de eu lhe oferecer meus ouvidos, meu ombro, minhas mãos.
Penso em quantos amigos encontrei nos semáforos da vida. Aqueles segundos de sinal vermelho em que apenas dizemos que não, não esquecemos do outro, que vamos marcar de se ver. E a vida passa. E com ela a chance de sermos solidários de fato, a chance de proteger a amizade como a ave protege seu ninho. Mas o sinal abre, e o sonho se vai, as promessas se dissolvem, os dias passam, a vida corre.
Ali, no frio do asfalto, congelada naqueles instantes, fica a distância entre intenção e gesto. E a amargura de um imenso vazio.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Minuto

"Melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez" (Lobão)

Cena: cheia de urgência, chego à beira da calçada e vejo o semáforo vermelho, barrando uma fila de motoristas de automóveis loucos para acelerar. E naquele "olha-pensa-para ou corre", na dúvida se dará tempo para atravessar e vendo a ampulheta do semáforo se esgotar, na iminência do verde abrir passagem para aquela manada, ali naquela cena patética, olho para o lado e vejo uma mulher com um bebê no colo. Deixo de pensar no dilema de atravessar ou não a rua e penso que aquela mulher poderia ser eu, e seu bebê, meu filho mais novo, ainda de colo. Com um sorriso, ela diz: "Melhor esperar um minuto na vida que perder a vida em um minuto". Em cheio. Como uma torta na cara.
Naquele momento que me pareceu congelado, o sinal abriu para os carros e o que parecia eternidade se esgotou em alguns segundos ligeiros. Com segurança, atravessamos a rua movimentada, cada uma para o seu caminho. Meus passos e a minha consciência ficaram mais leves.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Último dia. Ou Tributo a Richard Carlson

"Meu amor

O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
Iria manter sua agenda
de almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?"
(Paulinho Moska)

Acabei de ler um livro incrível. Peguei ao acaso, na biblioteca pública, na parte de autoajuda. Curto, simples e tão correto que fica difícil não tentar praticar seus ensinamentos. Acho que você deve ter ouvido falar, já esteve em listas dos mais lidos. Chama-se "Não Faça Tempestade em Copo D´água", da editora Rocco. Gostei tanto das 100 dicas que, ao chegar na centésima, "Viva este dia como se fosse seu último. Pode ser", busquei um contato com o autor do livro, Richard Carlson. Numa busca rápida, fiquei chocada e muito, muito triste, de ler Obituário em seu site em inglês. Reli o último capítulo e isso me fez parar.
Richard, que escreveu com aquela naturalidade que nos faz senti-lo como um grande amigo, morreu jovem, em 2006, de embolia pulmonar. Deixou filhas, esposa e o legado de seus livros como palestrante e consultor sobre estresse.
A vida e a morte nos surpreendem. Recentemente, já contei no blog, conheci um senhor de 100 anos incrivelmente bem. Pessoas jovens, como Richard, podem morrer sem aviso e a gente se sente naquele mar branco, cercado de névoa, o mistério da nossa frágil existência.
A única certeza que temos é a alegria do momento presente. Quando corremos e encaramos a vida como uma sucessão de eventos urgentes, ou quando valorizamos coisas e gente que não merecem atenção, não desfrutamos a experiência de viver. Quantos, ao morrer, além da caixa de entrada cheia de afazeres, deixam também o vazio existencial de quem nunca valorizou o que realmente era importante? Certamente Richard Carlson não foi um desses. Ele contribuiu, à sua maneira, para um mundo melhor, espalhando serenidade e amor por aí.
Sua morte prematura só reforça o último capítulo do livro que acabo de terminar de ler. Como diz Paulinho Moska na canção que cito na abertura, viva este dia como se fosse o último. E, como disse Carlson, ele pode ser.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Inteligência emocional

"De que vale teu cabelo liso
e as ideias enroladas dentro da tua cabeça?"
(Ana Carolina)

Não sei quantas vezes já saí do sério, o vulgo "piti", por não dimensionar bem uma situação e me sentir sobrecarregada. Nessas explosões de raiva e impotência, o raciocínio fica em algum lugar perdido dentro de um ser em ebulição. No meu caso, parece que entro em transe, minha capacidade lógica desaparece completamente e eu me desespero no mais profundo abismo da ignorância. Um surto. Buraco negro, em queda livre.
Tudo começa com uma carga que eu não consigo suportar, mas que vou carregando mesmo assim, dia após dia, hora após hora. Negligencio cuidados emocionais enquanto, paradoxalmente, acentuo os cuidados físicos com cremes, shampoos, perfumes, batons, como se isso fosse trazer algum alívio ou força. (Diga lá: não é nesta hora que consumimos mais? Nossos contracheques e extratos bancários com cifras vermelhas não são termômetros desta carência?) Sorriso no rosto, quantas vezes nossa vontade era berrar que detestamos uma situação ou pessoa, que está além da nossa capacidade de tolerância? E passamos batido...
Num momento banal - a chave perdida, o pneu furado, a pane no micro - tudo despenca e a fragilidade, até então oculta pela racionalidade, mostra quem somos de fato. E quem somos de fato? Humanos.
Nosso cérebro superior ao dos nossos irmãos mamíferos nos faz crer que somos algo entre o divino e o mágico. Criamos a fantasia de termos superpoderes. É a mãe que se acha a própria Mulher Elástico, com braços que esticam e alcançam filhos, tarefas do trabalho e afazeres de casa. É o homem que se vê como o Super Man, indestrutível. Mas, sinto dizer, somos de carne e osso exatamente como os nossos irmãos mamíferos. Temos necessidades comuns: de alimento, água, calor, sexo, afeto, sono, paz.
Quando a mente cria fantasias de poder extremo, o corpo não só padece com doenças (várias vezes me senti como à beira de um ataque cardíaco ou um AVC) como se rebela, fazendo outra coisa, pegando outro atalho por conta própria e gargalhando dos pobres neurônios.
Se compreendermos melhor esse complexo mecanismo que nos faz humanos, embora animais como os outros, podemos não apenas melhorar nossas relações interpessoais como ter mais qualidade de vida. Ando estudando esse tema, inteligência emocional, para saber dosar emoção e razão. Conseguir encontrar paz em meio ao caos, manter o pensamento calmo diante dos desafios, controlar emoções.
Hoje cedo tive um piti e acabo envolvendo muita gente ao redor. Na véspera, antes de dormir, li mais uma página do livro que elegi como guia para desbravar esse caminho. Mas, calma, só estou no primeiro capítulo. Das duas, uma: ou chego ao fim do livro transformada, ou ele vai para o armário de autoajuda onde adormecem livros sobre respiração, ioga, terapias alternativas... Ótimas leituras, mas algo me diz que só a prática diária de prestar mais atenção em nosso próprio ser vai surtir algum resultado. Por enquanto, essa é mais uma promessa de ano-novo e olha que já estamos no segundo semestre. O que posso fazer no momento é respirar fundo, distribuir desculpas e ir adiante. 

segunda-feira, 7 de junho de 2010

É junho

"Eu sei que é junho, esse relógio lento
Esse punhal de lesma, esse ponteiro,
Esse morcego em volta do candeeiro
E o chumbo de um velho pensamento..."
(Alceu Valença, Junho)



É junho e nem parece que chegamos ao meio de um ano que mal começou. Será que o tempo anda mesmo acelerado ou nós, acelerados que somos, mudamos nossa percepção de tempo?
O fato é que os dias se vão com uma rapidez impressionante e, paradoxalmente, o relógio se arrasta quando queremos que ele gire demais. Mesmo crendo que o dia devia ter mais de 24 horas, não temos poder para flexibilizar minutos ou segundos ao nosso bel prazer. Mas podemos desfrutar, com prazer, todo o tempo que temos.
Uma vida humana pode durar 80, 90 anos - se nada de errado antecipar a morte que chega naturalmente.
Um parênteses: semana passada encontrei um senhor de 100 que pediu para botar boné antes de ser fotografado, não sei se por vaidade ou respeito. Ao clicá-lo, senti a mesma emoção de contemplar um recém-nascido, no milagre da vida. Aqueles olhinhos cansados, a pele enrugada, o cabelo branquinho e a serenidade de quem já presenciou muitas coisas. E a pureza infantil que parece coroar pessoas muito idosas.
Se a existência é finita porque desperdiçar um tempo precioso com ansiedade, com o chumbo de um velho pensamento, como diz Alceu?
Neste mês de junho, ao invés de lamentar o ano que caminha para o fim, o convite é buscar alegria nas mínimas coisas do cotidiano. É tempo de frio, aconchego, bebida quente, a alegria das festas típicas, o entusiasmo do futebol. Entre amigos, queridos, família. Curta as crianças: elas crescem!
Aproveite. Saboreie cada segundo. Porque passa, e deve deixar saudade.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Diga sim, sem pressa e com amor

"Então case-se comigo numa noite de luar

Ou na manhã de um domingo à beira mar
Diga sim pra mim
Case-se comigo na igreja e no papel
Vestido branco com bouquet e lua de mel
Diga sim pra mim"
(Isabella Taviani)

No passado, valorizar cerimônias em momentos marcantes, como casamento e formatura, me parecia pura perda de tempo. Hoje penso diferente.
Uma colega casou no Sul e, ao entrar no site do fotógrafo, vi fotos lindas, despojadas, naturais. Nada posado, artificial, com maquiagens carregadas e vestidos empolados. Tudo muito simples, natural, tradicional, mas incrivelmente original. Adorei. Impossível não se encantar.
Aí pensei na quantidade de mulheres que neste mês, o das noivas, chegam ao altar depois de uma verdadeira maratona de compromissos exaustivos - que, aliás, virou até série de tevê, "Noivas neuróticas", nome que caiu como uma luva. São meses de antecedência para garantir o espetáculo e uma enorme canseira. Da escolha do modelo do vestido ao boneco do bolo, do convite ao lugar da lua de mel, o que deveria ser prazeroso acaba sendo alvo de muita irritação, principalmente se a noiva for daquelas que querem controlar cada detalhe. No final, além de uma baita dor de cabeça, o que sobra são imagens que retratam o artificialismo. Imagens sem vida, sem emoção, que se perdeu quem sabe na loja que vendeu as alianças de ouro ou na floricultura que decorou a igreja. Movimentos engessados, rostos suados e mantidos com muita base, sorrisos forçados, coroados por uma aura de preocupação.
É que as pessoas valorizam as coisas erradas. O álbum, a festa, o vestido, o glamour, nada disso é mais importante que a espotaneidade do amor. E o que é o casamento senão a celebração do amor? Da união de apaixonados?
As fotos do casamento que eu vi revelam um par afinado e íntimo como só conseguem formar as pessoas convictas da certeza do mais nobre sentimento humano. Fotos que flagram uma noiva bela e tranquila, serena em seu vestido branco e simples; um noivo brincalhão e feliz. No calor do aconchego das famílias e de amigos, uma vida em comum festejada com alegria. Sorrisos verdadeiros e risos dos momentos mais cômicos. Nenhuma ostentação, nenhum luxo, mas a elegância discreta de quem nunca pretendeu impressionar os outros. Imaginei aquele casal velhinho, lá na frente, revendo o álbum.
Voltei a navegar pelos sites de notícia e me deparei com mais uma celebridade que teve seu deslumbrante casamento desfeito sob acusações mútuas. O castelo de areia que desmoronou na primeira onda. Parei e pensei quanto tempo, dinheiro e energia gasto com o que não vale a pena. O que importa mesmo não exige neurose, estresse e pressa. Só basta amar.

PS.: Sim, eles curtiram cada minuto da festa, que durou três dias... E o fotógrafo é Filipe Francisco.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Sua mensagem foi enviada

"Palavras apenas, palavras pequenas,
palavras"
(Palavras ao Vento, Cássia Eller)

Palavra, uma vez dita, não retorna. O mal já foi causado, a dor, e o máximo que podemos fazer é pedir desculpa, mas a sombra do que se disse sempre fica, ostensiva, opressora, inquirindo em silêncio cada sentença, duvidando de afirmações, comprometendo relacionamentos.
Por pressa e estresse, vomitamos sobre o outro palavras que doem mais que um tapa na cara. Minha avó costumava dizer que a boca fala do que o coração está cheio, o que acho em parte verdade. Em parte. Às vezes não temos a menor intenção de agredir, na maioria das vezes não "perdemos tempo" pensando antes de falar e simplesmente falamos. Conselhos não pedidos, gafes de toda ordem, fofocas e besteiras que poderiam ser evitadas.
Na Era da Internet, mandamos e-mails como palavras e, como as ditas em alto e bom som ou as sussurradas, as virtuais vão direto para a caixa postal daquela pessoa. Num momento difícil ou de pura distração, lá foi ela como um torpedo e tudo que podemos fazer é ler "Sua mensagem foi enviada" com um pesar dentro do estômago e um enorme arrependimento. Irreversível.
Vamos tentar praticar - eu também, lógico! - refletir um pouco antes de abrir a boca ou mandar uma mensagem porque não há como interceptá-la no caminho. Esses poucos segundos vão nos poupar de tristezas e problemas, evitar tantos dissabores, falhas de comunicação, incompreesão e equívocos.
E como temos dois ouvidos e uma boca, vamos tentar ouvir mais e falar menos.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Vida no ar


Lição de casa:


"Pratico movimentos respiratórios no metrô, no avião, deitada na cama, sentada à minha mesa de trabalho, mas também como parte da minha rotina caseira - de qualquer maneira, sempre que tenho que respirar. Parte do encantamento é aproveitar o momento. Respirar é o maior estímulo do momento presente. Pense em fazê-lo e esqueça o passado e o futuro. Você está no 'aqui e agora'. Esta é a mais importante zona da dieta."


Mireille Guiliano (em "As Mulheres Francesas Não Engordam", editora Campus)

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Santos receberá Respira Brasil

"O mundo respira por um triz, ainda bem
Um pouco dos restos de ontem
É o que se tem"
(Nação Zumbi)

Um aviso aos moradores de Santos e região.
No próximo domingo (dia 18/4), a ONG Arte de Viver promoverá o que é tido como maior evento de respiração no País: o Respira Brasil, na praça das Bandeiras, na praia do Gonzaga, das 16h às 18h. Haverá aula de ioga e meditação. Informações no site www.artedeviver.org.br/respirabrasil.
A respiração é importante para o controle emocional e outros tantos benefícios, mas acabamos por negligenciá-la. Entender a fisiologia desse processo e colocar os ensinamentos em prática é um desafio e tanto para os apressadinhos, como eu. A própria entidade em questão destaca: mais de 80% das impurezas e toxinas presentes no organismo podem ser eliminadas através da respiração, porém a maioria das pessoas utiliza somente 35% de sua capacidade pulmonar.

(Em tempo: não sei se contei, mas dei um tempo à acupuntura e me obrigo a reservar duas horas por semana para meu esporte preferido: natação. Além de dar um "up" no corpo, melhora muito a respiração e relaxa. O melhor é que a professora também leciona ioga, um sonho antigo)

Tá dado o recado.
Agora é com vocês.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Calminha, com agulhas

"E bate louco, bate criminosamente

O coração mais do que a mente, bate o pé mais do que o corpo poderia
E se você mentalizasse na folia
Sabe lá se não seria a solução prá de manhã pensar melhor
E caso fosse a incompatibilidade entre o corpo e consciência
Iria desaparecer, você não vê
Como o corpo preparado pode ser iluminado
Como a luz de uma fogueira que precisa se manter"
Oswaldo Montenegro


Há umas duas semanas, cheguei ao trabalho parecendo um zumbi. Olheiras, sono e o peso do mundo nas costas. É que ando dormindo mal e pouco, dando conta, como tantas outras mulheres, de casa, trabalho e muitas demandas que surgem no atropelo do cotidiano. Uma amiga me socorreu, sugerindo um café forte e uma massagem no horário de almoço. O café deu aquela levantada no astral e a massagem, bem... Procuramos uma clínica de terapias alternativas próxima ao lugar onde trabalhamos, mas o dono, um senhor oriental contador de histórias, disse que massagem ele não fazia. Fazia acupuntura. Minha amiga, animada com a ideia, sugeriu que eu experimentasse. Logo de cara o tal senhor olhou pra mim e decretou, num português truncado: "Você está com 'probrema' de energia". Saiu de cena e voltou com uma espécie de triângulo de metal e confirmou o diagnóstico. Não tive argumentos.
Já fiz três sessões. Estranho ficar deitada na maca enquanto alguém nos espeta com agulhas finíssimas pelo corpo. Mas estranho ainda tentar relaxar com tais agulhas. Incomoda a fixação. Senti uma dor semelhante ao da picada de uma agulha de injeção, embora eu saiba que essas são da espessura de um fio de cabelo. Lembro daquele filme de terror, o Hellraiser, com seus rostos cheios de agulhas, e tenho vontade de rir. Desculpe, sei que a terapia é séria. Cômica é a situação.
Para quem tentou até psiquiatra para se livrar do estresse e da Síndrome da Pressa, ando atipicamente calma nas últimas semanas. Ainda me sinto cansada, o que tentei resolver com mais exercícios, a natação, mas que me dá um incrível prazer. É, digamos, um cansaço bom, positivo, que renova as energias. Eu aposentei por algum tempo as vitaminas de pré-natal (eu amamento meu filho de sete meses e resolvi doar leite para um banco) e preciso voltar a investir nelas como um "seguro-saúde".
Tentei estudar mais sobre terapias alternativas, mas confesso: não é coisa fácil entender aqueles termos chineses e indianos, e como funcionam meridianos, chakras, auras... Não desisti, mas não avancei muito nos conhecimentos que gostaria de adquirir. Nem mesmo a básica meditação eu consegui implantar no meu dia-a-dia.
O fato é que me sinto melhor, aos trancos e barrancos. Se posso atribuir isso às agulhitas, não sei. Apesar disso, estou quase por desistir porque o terapeuta fala demais (é duro para quem gosta de tagarelar ficar só como ouvinte). E também porque a acupultura dói um pouco no meu orçamento.
Para retribuir a gentileza da minha amiga, descobri um clínica aqui perto que oferece a massagem anti-estresse. Acho que vou marcar para experimentarmos.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Mulher, mulher

"Dizem que a mulher é o sexo frágil. Mas que mentira absurda! Eu que faço parte da rotina de uma delas, sei que a força está com elas" - Erasmo Carlos

Eu nunca tinha prestado muita atenção nesta música, que sempre é usada em trilhas sonoras de rádios no Dia da Mulher, até ler um artigo num site de astrologia. Não só achei que tem tudo a ver com o mundo feminino como me identifiquei com a mulher em questão, que tenta dar atenção ao marido enquanto amamenta o filho menor, dá a mão para o do meio e expressa seu amor pelo mais velho. Também tenho quatro homens "dependentes e carentes" em casa, como diz a canção do Erasmo.
Pode parecer chavão, mas quero aproveitar a data para celebrar a feminilidade e dizer que, embora envolvidas em mil atribuições, nós, mulheres, temos o poder de mudar o mundo. Criar pessoas mais amorosas, sensíveis, incapazes de violentar a natureza e de cometer crimes. Cidadãos conscientes que lutem por justiça, diminuindo o enorme abismo entre as classes sociais. Pais e mães dedicados à prole, participativos nas escolas. Políticos honestos e altruístas. Profissionais motivados e idealistas.
Parece sonho? Pois não é. Mulheres estão nos lares, nas escolas, nas comunidades. Neste momento cuidam de crianças nas creches, lecionam, percorrem comunidades para levar a multimistura da Pastoral da Criança a bebês desnutridos, perambulam por bairros pobres como agentes de saúde. Elas têm o poder de conceber, gestar... uma criança, projeto, ideia, bandeira. Seus frutos ultrapassam a fronteira do ventre. Como solo fértil, coração de mulher germina solidariedade e sempre tem lugar pra mais um.
Apesar de tão fundamental à vida, a mulher vem sendo negligenciada. Por homens, que ainda a agridem em atos de absurda covardia, protegidos pelo silêncio de quatro paredes. Pela sociedade, que é injusta quando pratica preconceitos que já deveriam ter sido banidos. Por outras mulheres, quando dão eco a visões machistas e não amparam a maternidade. Por elas próprias, quando sufocam desejos, impedem ousadias, pregam o conformismo, desrespeitam seus limites.
Aproveitando a data, quem sabe as mulheres consigam perceber o quanto especiais são. Que deixem os rótulos de lado e olhem no espelho sem se preocupar com rugas, celulite, estrias e cabelos brancos. Esqueçam padrões de beleza. Rasguem a cartilha do feminismo, porque não é competindo com os homens ou tentando ser como eles que vão fazer a diferença. Não reforcem a ignorância, desestimulando o parto natural e o aleitamento materno, dádivas da mãe-natureza.
Espero que as mulheres adoeçam menos por estresse, abandonem a frenética busca por perfeição. Não se cobrem por serem falíveis, às vezes frágeis e quase sempre fora de si nos dias de TPM, na chegada da menopausa, após dar a luz. Sou assim e se encontrasse o gênio da lâmpada teria apenas um desejo: ser perfeita. Morro quando um filho meu fica triste, quero cair num buraco quando erro e não dou trégua no trabalho. Queria ser a Mulher-maravilha, com capa e tudo, ah, e lógico, aquele corpão.
Mulher é assim. Nosso desafio deve ser olhar para as nossas próprias necessidades, e não falo só do shopping. Necessidades que fingimos não perceber, aquelas escondidinhas lá dentro do peito, que emergem quando finalmente repousamos a cabeça no travesseiro. Queremos colo, atenção, ouvidos, um divã, reconhecimento, amor. E não só no Dia da Mulher, mas nos outros dias do ano, que tenhamos a reconhecida reverência pelo que temos a ofertar, nossa contribuição para um mundo melhor. Mas essa construção é feita a quatro mãos, homem e mulher, unidos como iguais, respeitando suas diferenças.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Seja ridículo

"Eu vi... pois é, eu reparei. Você me tirou todo o ar, pra que eu pudesse respirar. Eu sei que ninguém percebeu. Foi só você e eu" (Cupido, por Maria Rita)


Faz tempo que não sinto aquela sensação de parar no tempo. Incrível como acontece à nossa revelia, os sentimentos nos carregam como o quebrar de uma onda gigante, nos arrastam como vento em fúria e não temos foco para mais nada. Tudo ao redor some e só o que importa é aquele momento - mágico, eterno, intenso.
A paixão costuma ser assim. Não apenas por aquela pessoa atraente, cuja força do olhar nos encanta com um poder avassalador. Ela nos faz refém quando estamos absortos num trabalho envolvente, numa dança, numa ideia criativa (os tais insights, ou em plena brainstorming, literalmente tempestade cerebral, que digam os publicitários) ou diante de numa cena cativante, o que me lembra aquele trecho da canção "O Leãozinho", do Caetano: "E um filhote de leão, raio da manhã, arrastando o meu olhar como um ímã". Pode ser paixão por um bebê lindo, que sorri em nosso colo e nos faz derreter, começar a balbuciar um "bebenês" e parecer ridículos.
Sim, ridículo é a palavra exata. Apaixonados, somos completamente sem noção e isso me parece fundamental para viver a vida com mais alegria, botar cor no que está cinzento, sabor no que está sem gosto, dar leveza ao cotidiano. As regras sociais, de comportamento, obrigações da boa educação, rígidos padrões, nos forçam a prestar atenção a tudo, responder quando chamados, sempre alertas, como os escoteiros, sempre formais. Tudo certinho, dentro do previsto, programado.
A espontaneidade nos vem sendo podada desde a infância e não nos damos conta. Aí, do nada, certo dia nos flagramos flertando descaradamente com alguém, aquela força interior emergindo e, no olho do furacão, encontramos a paz. De vez em quando, numa aula tediosa ou na poltrona do ônibus, reparamos o mundo de uma janela e dá vontade de estar lá, entre as crianças que correm na chuva.
Bem-vindo à vida! Permita-se esquecer o relógio em casa, cabular um dia de trabalho, paquerar alguém, brincar com uma criança no parque. Ser assim, completamente ridículo e feliz. Porque ninguém vai reparar, e se reparar, você não vai perceber porque não estará nem aí para o que os outros pensam, para o que a moral e os bons costumes pregam, para o que o mundo dita, para o que diz a meteorologia.
Se conseguir ser ridículo mais vezes, vai acabar se tranformando. A metamorfose mudará o eixo do teu ser, do cérebro para o coração, que baterá mais rápido. A respiração ficará mais profunda, oxigenando melhor as células. Um sentimento de bem-estar dará o acabamento final: um rosto radiante, bochechas ruborizadas, olhos brilhantes. E se alguém disser que você anda nas nuvens ou no mundo da Lua, apenas sorria. Um sorriso largo, verdadeiro e contagiante.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Paciência, amigos!

Queridos leitores

Ando a mil (ops!) ultimamente, numa correria (!) imensa para conciliar casa, filhos e trabalho. Por isso não tenho tempo para escrever novas postagens. Escrever artigos é um trabalho lento e prazeroso, como saborear um pavê de chocolate ou esculpir uma obra. Uma das poucas coisas que preciso fazer com plena tranquilidade.
Então tenham paciência, por favor, e não desistam de seguir o blog. Vejam as postagens mais antigas e, se possível, comentem.
Em breve escreverei sobre dois assuntos que ando pesquisando: medicina ayurvédica e terapias alternativas para o controle da pressa.
Por ora, basta o exercício diário da paciência ao lidar com as muitas demandas de um cotidiano estressante. É a vida impondo seus desafios...

Abraços e fiquem em paz,

Mulher-urgente

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Sobre sonhos

“Longe se vai sonhando demais, mas aonde se chega assim?”
(Milton Nascimento)

Se por um lado devemos cultivar nossos sonhos e concretizá-los, por outro não podemos viver só de sonhos. Há uma diferença enorme entre traçar um planejamento para atingir metas, seja trocar de carro ou comprar um imóvel, e viver praguejando porque não se consegue um emprego melhor.
Quem sonha demais, esquece a realidade e vive a vida sem viver. Mas quando mantém vivos os sonhos sem se desconectar do mundo real, vive com mais alegria e entusiasmo. Sem eles, o cotidiano se torna rígido e chato.
Falando em sonhos, essa é uma boa maneira de se reencontrar. Pegue uma foto antiga e veja. Examine bem aquela criança porque ela ainda é você. Lembre-se do que, naquela época, queria fazer no futuro e faça, se isto for importante hoje.
Mas sonhar como fuga da realidade é o que milhões de pessoas fazem sem se dar conta. No trânsito, sonhando com um carro novo, sem observar as dificuldades de quem depende de transporte público. No emprego, sonhando com uma promoção e melhor salário, sem notar que é preciso trabalhar com mais energia, mostrar resultados que justifiquem isso ou batalhar outro lugar. No espelho, sonhando com quilos a menos, mas sem encontrar disposição de fazer exercícios e adotar uma dieta.
A médica norte-americana Pamela Peeke, autora de “Body for Life para Mulheres”, chama esse tipo de condicionamento de vala da ruminação. Não reclame, aja. Não sonhe apenas, concretize. Adote uma atitude realista e mude o que não o satisfaz combinando a força do pensamento com a da ação. Saia da vala da ruminação, parafraseando a dra. Peeke, deixe a zona de conforto, e chegue aonde quer chegar.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O valor da vida

“Vem de lá
Nenhum lugar
Espaço além, do coração
Vem na luz do sol
O vento traz
Nudez de tal revelação”
(“Anjo Bom”, Flávio Venturini)

Afinal, corremos para quê? Esta é a pergunta que me faço diante de tragédias como a do Haiti. Ali, entre escombros, vidas soterradas. Pessoas que até o terremoto acontecer trabalhavam, estudavam, levavam seu cotidiano normalmente, quem sabe felizes. E que hoje choram seus mortos, perambulam entre prédios destruídos, sentam no chão e tentam buscar recursos, do fundo da alma, para se recompor e curar feridas que talvez nunca cicatrizem.

Estamos sempre apressados e passamos pela vida como zumbis, sem prestar atenção ao presente, a quem está do nosso lado, a pequenas alegrias, tão discretas e frágeis que se perdem no mar agitado dos nossos pensamentos. E eis que um dia algo acontece, ou não. O diagnóstico de uma doença grave, a morte de um ente querido, um trauma ou uma tragédia que nos faça parar. Reparem que sobreviventes dão um valor muito maior à vida, mudando completamente de atitude. Tornam-se pessoas melhores. Não precisamos passar por isso para revolucionar nossa vida.

Recentemente assisti a um vídeo em que o palestrante discorria sobre felicidade e comparava ganhar na loteria a se tornar um paraplégico. Claro que ninguém quer ficar sem os movimentos das pernas e todos querem ter dinheiro o bastante para realizar seus sonhos, mas, segundo ele, nas pessoas estudadas, algum tempo depois o nível de felicidade nos dois casos era o mesmo. O palestrante atribuía isso ao fato de nos contentarmos com o que temos se não tivermos escolhas. Quando temos muitas opções, tendemos a não nos satisfazermos nunca, como alguém que, por ter tudo, não encontra felicidade em nada, condenado a uma eterna busca por mais e mais.

As câmeras de tevê nos mostram que as pessoas no Haiti que sobreviveram ao terremoto não têm escolhas. A vida foi o que lhes restou, e só. Para muitos, isso basta. Vejo num site a foto de um soldado espanhol entregando uma criança de dois anos à mãe. O soldado exibe um sorriso triste, como que escurecido pelo pesar das cenas horríveis que viu. A criança também não sorri abertamente, apenas seus olhos, negros e grandes, traduzem o contentamento de ter a mãe ali tão próxima. Não se pode ver a expressão da mãe porque ela está de costas, mas sua mão, indo ao encontro do rosto do filho, sorri por ela, com ternura e paz.

A mesma paz que marcou a trajetória da amada Zilda Arns neste mundo. Aos 75 anos, morreu de forma heróica, lutando pelo que acreditava, mas viveu de forma ainda mais heróica, salvando vidas com receitas simples de uma mistura de farelo de cereais e de água com sal e açúcar. Um anjo lindo que passou pela Terra espalhando justiça e solidariedade.

Vamos parar um pouco, fazer um minuto de silêncio em respeito aos que se foram e em homenagem aos bravos que tentam viver em meio ao caos. E que este silêncio se prolongue por nossas mentes inquietas, corações ansiosos e pernas apressadas.

Devemos dar graças a Deus pelo que temos, ter a humildade de aceitar o que não podemos mudar e amar muito. Porque nesta vida, só o amor importa. O amor de Zilda Arns pelas crianças pobres, o amor daquela mãe ao reencontrar o filho, o amor do soldado que enfrenta o perigo para resgatar desconhecidos que falam outra língua e o amor que temos para mudar o mundo ao nosso redor.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Mãos na terra

“Afagar a terra, conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão”
(“Cio da Terra”, Milton Nascimento e Chico Buarque)



Representando abundância e fertilidade, a terra é um elemento poderoso que, entre outras coisas, nos ajuda na busca pela tão necessária calma. Simplesmente pisá-la com pés descalços, sentir seu cheiro após a chuva, nos faz parar por um momento e deixar de ser isto ou aquilo para assumirmos apenas a condição de seres vivos. Se a vida humana começa na água, termina na terra para ressurgir em outras formas. Mãe generosa, recebe e transforma, nutre e desenvolve.

Sugiro então que você arregace as mangas e procure um pedacinho de terra. Nem precisa ser quintal ou sítio. Basta um vaso. Plante ali o que quiser: de uma horta para colher alimentos para o estômago a um jardim de rosas, que alimenta a alma. Pode ser apenas um pé de feijão, uma árvore que se tornará frondosa ou uma muda de manjericão. Basta a semente da fruta que você acabou de comer, o pedaço do caule com raiz de uma salsa que ia para o lixo, aqueles envelopes de sementes que se encontra no supermercado ou saquinhos com plantas nas feiras livres. Uma folha de begônia ou de violeta é capaz de se multiplicar e algumas espécies de plantas pegam por galho, inclusive a roseira.

Cuide bem do seu pequeno agroprojeto. Sol, água e adubo são imprescindíveis, nas quantidades recomendadas a cada espécie. Ah, e paciência. Aí entra o treino contra a pressa. Nada na natureza acontece fora de época, há tempo para tudo. Então se prepare para todo dia visitar sua planta com aquela expectativa e... Nada. Até que um dia, quando você já nem achava mais que ela brotaria ou daria flores, descobre um minúsculo botão, uma folhinha, um pedacinho de vida. É como uma gravidez - o ultrassom revelando aquele pequeno ser, do tamanho de um grão de feijão, implantado no útero.

E o prazer vai aumentando à medida que a muda cresce: imagine saborear uma salada com verduras direto da horta, uma sopa com legumes frescos, temperar a comida com ervas verdes ou uma suculenta fruta. Tudo orgânico, sem agrotóxicos. Diz se não tem uma energia diferente...

Outro exercício relacionado à terra pode ser esculpir em argila, modelar a massa disforme e criar o que quiser. Liberte-se como na infância, sem autocrítica e julgamentos. São atividades simples que produzem um efeito terapêutico excelente, aumentando nossa qualidade de vida.

Que o ser humano tenha sensibilidade para amar a natureza, em seus pequenos detalhes. E a terra, que dá nome do nosso planeta água, nos inspire a sermos mais generosos e desapegados a cada estação.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Promessas de Ano-novo

"Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?"
("A Lista", Oswaldo Montenegro)

Todo ano, refazemos a mesma lista de promessas: desacelerar, procurar velhos amigos, comer menos, fazer exercícios, parar de fumar... Mas no correr dos dias, semanas e meses, elas nunca se concretizam.
Neste alvorecer de 2010, vou esquecer as promessas. Fazer um tratado comigo mesma. Sem o rigor das coisas impostas, das regras, dos objetivos tão irreais. O compromisso é colocar o bem-estar em primeiro plano, buscar qualidade de vida e alegria. Livre assim, sem entrar em detalhes, enumerações.
Minha médica costumava dizer "Se você estiver bem, tudo e todos ao teu redor estarão também". Quando estamos felizes, somos melhores. Então que esta seja nossa única meta.