terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Água para sorte e saúde no Ano-novo



“Água que nasce na fonte,
Serena do mundo,
E que abre um profundo grotão.
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...
Águas escuras dos rios,
Que levam a fertilidade ao sertão.
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...”
(Guilherme Arantes)

Comer romã e lentilhas, usar roupas brancas e novas, guardar sementes de uvas... Sugestões para atrair sorte não faltam em qualquer Réveillon. Eu sugiro algo que nada tem de supersticioso, mas possui o claro significado de vida, saúde e bem-estar: a água. Por dentro ou por fora, ela faz a faxina que a gente precisa para mudar o ciclo e entrar, com o pé direito, no novo ano.
Como é verão, fica fácil. Água vai bem com tudo: pura, em sucos de frutas e outros mais, como o de clorofila, em chás gelados... E o que não dizer da deliciosa água de coco? Já que somos constituídos de muita água, consumi-la é essencial. Nesta estação quente, melhor beber que comer. E se considerarmos que os festejos envolvem bebidas alcoólicas, hidratação faz um bem enorme ao corpo, ressentido da exposição solar. Mesmo ao comer, dê preferência a frutas como melão e melancia, a gelatinas (a aguar-aguar, feita de algas, é melhor ainda), sorvetes sem leite, saladas coloridas e legumes no vapor. Entre as carnes, como não poderia deixar de ser, a de peixe combina com verão, especialmente grelhada. Bom quem pode pescá-lo fresquinho e sem metais pesados.
Por fora, recomendo um banho. De mar, claro, tão disponível para nós, só que olho na bandeira da Sabesp. Em casa, um simples banho de chuveiro refresca, acalma a mente e aquieta o coração: se frio, é revigorante; morno, relaxante; e quente, no inverno, aconchegante. Para os místicos, na net há várias receitinhas de banhos com ervas, como o poderoso alecrim, para levar os maus fluídos ralo abaixo.
Banho de cachoeira é um luxo para poucos. Como canta a incrível Tetê Espíndola e sua voz de ave pantaneira: “Há um chuvisco na Chapada. Em toda mata um cochicho em cê-agá. Chuá-chuá na queda d'água. Em me espicho e fico quieta, nada me falta”. Já me sinto lá...
Perfumes? Sim, as águas de colônia são muito suaves, que prolongam a sensação de banho e produzem uma aura gostosa. São completamente "out" os perfumes pesados, típicos do inverno, que agridem o olfato. Ao invés de atrair, espanta. Mandarina, lavanda, frutas cítricas, são muitas as águas perfumadas, basta escolher uma que combine com você.
Para desacelerar, nada como uma piscina. Os movimentos são lentos, exigem mais e nos recordam o útero materno. Aliás, parênteses para mamães e papais: para acalmar os bebês, a nova moda é o banho de balde, acredite se quiser. Voltando ao banho, quem pode usufruir dos benefícios das saunas ou das termas, maravilha também.
Só não vale uma coisa: desperdício. Não gaste água lavando carros, calçadas e de outras formas desnecessárias. Hoje a temos e um brinde a isto. No futuro, para as próximas gerações, o que equivale dizer aos nossos descendentes, a água potável talvez seja ainda mais preciosa. Quem sabe, rara. Portanto, preserve.
Ah, também não vale contaminá-la, mesmo em atitudes banais como derramar óleo de cozinha na torneira da pia – experimente fazer sabão. Ensine isso às crianças e ajude a criar cidadãos mais conscientes. Para que nos próximos anos possamos continuar brindando o Réveillon com muita água.
É isso: em 2010, te desejo paz, tranquilidade, amor e muita sombra e água fresca. Agora pode pular as sete ondas do mar e beber champagne (sem dirigir depois, lógico), que ninguém é de ferro. Pelo contrário, somos 70% água. Boa sorte!

Socorro! O computador me engoliu!



“O cérebro eletrônico comanda, manda e desmanda.
Ele é quem manda, mas ele não anda.
Só eu posso pensar se Deus existe, só eu.
Só eu posso chorar quando estou triste, só eu.
Eu cá com meus botões de carne e osso, eu falo e ouço.
Eu penso e posso”
(Gilberto Gil)

Internet é algo que absorve. Estou em licença-maternidade e, nas horas vagas, acesso e-mail, entro no Orkut e dali para uma pesquisa é um salto. Volto para outro e-mail (tenho quatro), navego outro site interessante, depois outro, uma conversinha no MSN, a leitura do jornal e das revistas... E quando vejo estou horas ali em frente ao computador, cega para o que tem ao redor, completamente envolvida com esse brinquedo de gente grande (e pequena também). Com o aumento da frequência, vicia e passa a ser rotina viver neste mundo virtual.
O problema está quando não nos colocamos limites. É tão prazeroso conversar com amigos, antigos e novos, interagir com pessoas diferentes, buscar novos conhecimentos, matar nossa sede de informação! Mas é preciso manter os pés no chão e não esquecer do mundo real, de quem está ao nosso lado, de carne e osso. Quantos pais permanecem hipnotizados em frente a tela depois de chegar do trabalho, sem tempo para ir à cozinha preparar uma refeição nutritiva e dar atenção aos filhos. E o inverso também é verdadeiro: jovens que se recusam a sair do quarto sequer para jantar, que respondem com monossílabas tentativas de diálogo. No campo profissional, é preciso manter a disciplina para evitar dispersão, já que a sedução de deixar o dever de lado é grande.
A Internet tornou-se uma grande aliada, dinamizou as comunicações e revolucionou o mercado de informações. Porém, a velocidade do mundo virtual, tão disponível e ilimitado, pode, paradoxalmente, nos tirar do mundo real. De repente estamos com centenas de amigos que nem conhecemos no site de relacionamentos e ninguém ao nosso lado, comprando por sites e deixando de sair de casa, conversando com os dedos e não mais olhos no olhos, vendo filmes pelo note e não mais no cinema. É como Frejat diz na canção quanto ao dinheiro: "quem é mesmo o dono de quem?".
Moderação em tudo é boa. Comida em excesso faz mal. Exercícios físicos também. Tudo que vai além da conta traz algum tipo de prejuízo. Internet não é exceção. Nem informação. Eu, como qualquer jornalista, sou curiosa e não me canso de buscar dados, textos, imagens, fontes de saber, mas a velocidade e o volume às vezes cansam. O resultado é mais ansiedade, dor de cabeça, nervosismo, agitação.
Quando notei que estava me deixando engolir pelo computador, mergulhando, não navegando, em suas atrativas possibilidades, resolvi emergir. E respirei fundo, como faria depois de algum tempo submersa em águas agitadas. Nem todos os dias escreverei neste blog, como desejo. Ler os e-mails duas vezes por dia está ótimo. Divididas entre afazeres e prazeres, as horas de folga serão momentos para, por exemplo, andar na praia, visitar uma amiga ou apenas ficar em silêncio. Enfim, tento encontrar formas de tirar o máximo proveito do meu notebook sem, entretanto, me aprisionar dentro dele. Agora mesmo, chega por hoje. É hora de dormir.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Meu sonho

"Faça o que é bom, sinta o que é bom, pense o que é bom. Bom pra você.
Guarda pro final aquele sabor genial, se é genial pra você" (Zélia Duncan)



Estou na cozinha da minha chácara preparando uma sopa de couve-flor, curry, maçã e açafrão para o jantar. Com um fogão rústico e lenha por perto, a cozinha expõe panelas dependuradas e num paneleiro antigo de metal, maços de temperos frescos na pia, colhidos da horta que fica em frente. Numa cristaleira de madeira, pratos, tigelas e canecas coloridas, de cerâmica pintada à mão por mim mesma. E na mesa, um buquê de flores do campo azuis e girassóis amarelos.
Estou com os cabelos longos e sem tintura, presos num coque displicente, vestida confortavelmente com uma calça do tipo bailarina e uma camiseta curta, de chinelos de palha comprados no centrinho da cidade mais próxima. Estou sorrindo, feliz da vida. Olhando pela janela, vejo um morro ao longe, um pequeno lago com marrecos barulhentos, árvores frutíferas, jardim com uma estufa para orquídeas e meus filhos correndo atrás de um cachorro grande cor de conhaque, por entre as árvores.
Enquanto a sopa cozinha lentamente na panela de pedra e meu marido segue para nossa oficina, onde produzimos arte, aproveito para descansar na sala, com sofás amplos e fofos, tijolos aparentes e muitos quadros.
O cheiro bom da sopa mistura-se ao de café fresco, de coador. O som de risadas infantis confunde-se com os de aves e da cigarra, avisando que o sol está a pino. Não deito no sofá. Prefiro ir até a varanda, sentar na rede artesanal e agradecer a Deus por tudo aquilo. Fico ali alguns minutos, desfrutando a plena paz, respirando o ar puro do verde ao redor e depois volto à cozinha. Desligo o fogo. Tomo uma xícara de café fumegante, levo outra para meu companheiro e providencio mais lenha seca para a noite, que vai esfriar.
Volto para a cozinha, na dúvida entre colher amoras silvestres para uma geléia, plantar flores ou pintar um novo quadro. Decido deixar tudo para depois e deito na rede da varanda contemplando o céu e saboreando o mais completo ócio.

Viver no presente para evitar acidente

“Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não pára...
Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso, faço hora, vou na valsa. A vida é tão rara...” (Lenine)

Certa vez, foi visitar um primo, que considero irmão. Ele não estava, mas passei um tempo com sua esposa e seu filho pequeno. Tinha levado meu bebê de meses e, no caminho, como sempre, dirigia enquanto planejava o que faria, por quanto tempo e o que diria para sair cedo. Cheguei. Abraços. Fomos à cozinha com os meninos, conversamos, tomamos café, eles dormiram e conversamos mais. Olhei no relógio e vi que estava no limite que eu estabelecera para voltar. Um minuto perdido faria ruir meu planejamento.
Minha prima queria que eu ficasse mais, mas disse que não podia. Mentalmente, calculei o tempo que levaria para pegar meu filho mais velho na casa do pai dele e cruzar toda a cidade até chegar em casa, fazer o jantar, etc. Nem bem meu bebê acordou, já saí correndo, coloquei tudo na sacola, nos despedimos e eu, sem prestar nenhuma atenção, cumpri o ato mecânico de colocar bolsa e sacola no banco da frente, abrir a porta de trás, ajeitá-lo na cadeirinha, prender o fecho e... bater a porta. Quando, ainda sorridente e acenando, me aproximei do banco do motorista constatei que a chave do carro ficou do lado de dentro, dentro da bolsa.
Foi como se o mundo ruísse aos meus pés, fiquei sem ar. Só consegui balbuciar o ocorrido à minha prima, sentindo o sangue gelar. Fiquei estática, incrédula e só saí do meu transe com a pequena multidão que se formava. Na semana anterior, um pai tinha esquecido seu filho pequeno dentro do carro por horas, num estacionamento, e a criança morrera. Eu via meu filho sorrindo, os olhinhos de sono, as gotas de suor caindo sobre seu rosto, um calor imenso do lado de fora e todos os vidros trancados por dentro. Uns diziam para chamar o chaveiro, outros tentavam buscar chaves de carros iguais, mas um desconhecido mandou buscar um martelo, o que eu concordei, e quebrou o vidro, abrindo a porta. Ainda saí logo, mesmo trêmula, porque tinha que pegar o mais velho na casa do pai e consertar o vidro antes de cruzar a cidade para chegar em casa e preparar o jantar na hora exata.
Que loucura! O que a pressa não faz com a gente?! Quantos equívocos! Quantas falhas pela falta de atenção. Deixamos de perceber as coisas mais importantes da vida, as pessoas que mais amamos, porque somos escravos do relógio e não dimensionamos a profundidade dos nossos erros. Como fui inconseqüente tentando ser tão controlada, planejada e inflexível!
O cotidiano nos aprisiona em condicionamentos. Todos os dias fazemos os mesmos trajetos, repetimos as mesmas ações, obedecemos aos mesmos horários e não nos damos conta que nada se repete, nenhum instante é igual ao outro, apesar da sensação de que nada muda.
Depois deste episódio, deixei de andar no piloto-automático e passei a concentrar atenção no momento presente. Paciente e consciente, afrouxei minhas próprias regras para me permitir viver melhor.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Um sonho de meio século




“Tempo Rei! Oh, Tempo Rei! Oh, Tempo Rei!
Transformai as velhas formas do viver.
Ensinai-me, oh Pai, o que eu, ainda não sei” (Gilberto Gil)

Quando numa conversa trivial, minha mãe disse que voltaria a estudar, fiquei tão emocionada e atônita que não pude conter as lágrimas. É que eu já tinha desistido de incentivá-la a voltar para a escola. Depois de tantos anos, nem cogitei que, no auge dos seus 62 anos, avó dos meus três filhos, aquela senhora de aparência frágil me surpreenderia desse jeito. Abracei-a com força e quando perguntei “Por que mãe, só agora?”, ela respondeu com aquele jeito sereno e certo: “Há tempo pra tudo, filha”.
Minha avó, filha de um imigrante português muito correto e rústico, não teve chance de estudar. Nem a mãe dela. Eram mulheres que passavam o dia cuidando dos pais e irmãos menores, depois dos maridos e filhos, depois dos netos, e nunca tinham tempo para si. Num tempo em que não havia ferro elétrico (eram de ferro, aquecidos por brasa), nem tevê, nem microondas. Que as roupas eram lavadas com cinza e ervas, quaradas ao sol. Não havia vacinas disponíveis para combater doenças infantis, nem pílulas anticoncepcionais em unidades de saúde, nem soutiens queimados em praça pública. Mulheres que respondiam, nos cadastros, que sua profissão era “do lar”. Donas-de-casa cujo árduo trabalho nunca foi reconhecido à altura.
Na inexorável tradição familiar, era esse o papel feminino no lar. E minha mãe, a mais velha de quatro filhos, não pode prosseguir os estudos porque sua mãe temia que ela “se perdesse na vida”, que se desviasse do caminho de mulher de família. Seu sonho era ser professora. Cursou até a quarta série do primeiro grau, hoje quinto ano do ensino fundamental. Guardou na gaveta a medalha de honra ao mérito que recebeu por ser uma das alunas mais aplicadas da sala e esperou meio século para prosseguir seus estudos.
Mas não esperou de braços cruzados, nem posando de vítima. Cuidou dos irmãos menores, casou e se dedicou ao lar, foi uma das mães mais presentes e participativas que eu conheço na minha vida escolar, checando cadernos, indo a todas as reuniões, tomando as matérias das provas, participando da Associação de Pais e Mestres... Pegando a mão de uma menina para ensiná-la a escrever seu nome, sem saber que no futuro ela faria das mãos sua bandeira e missão. Hoje eu sou jornalista graças ao seu incentivo. Depois de 19 anos, nasceu minha irmã e mamãe continuou sendo a mesma companheira e incentivadora. E posso dizer que minha irmã cursa faculdade de Nutrição também por isso. Ainda a outros ela ajudou, como voluntária e, ouso afirmar, missionária. Porque a África é aqui: você não precisa sair do País para encontrar vítimas da fome, da miséria e das mazelas sociais. Basta dar uma volta por aí.
Quando minha mãe citou Eclesiastes para responder minha pergunta, acho que ela quis me lembrar que o senhor do Tempo é Deus e que nossa vontade nem sempre predomina. Por amor, devemos abrir mão de muitos desejos e dar nosso tempo a quem precisa. É um presente valioso. Me faz lembrar do garotinho que queria comprar, com as moedas de seu cofrinho, um pouco do tempo do pai executivo que nunca parava para estar com ele. E pela fé, devemos acreditar que, cedo ou tarde, chegará o dia em que nossos sonhos serão realizados.
A atitude da minha mãe em se matricular no EJA (Educação para Jovens e Adultos, antigo supletivo) foi, mais uma vez, uma lição de vida. Que eu preciso priorizar o mais importante, nem que eu tenha que ir para o fim da fila. Que eu preciso ter calma e saber esperar, sem culpar ninguém. E que é preciso coragem para entrar em ação quando chegar a hora certa.
Perto de completar 40 anos de casamento, já a vejo saindo alegre da escola e encontrando meu pai, que carregará seus livros e, depois de um beijo carinhoso, lhe pagará um sorvete na pracinha ou, quem sabe, um cinema. E, apressada como sou, conto os dias para vê-la à frente de uma classe, lecionando para crianças barulhentas, com seus cabelos grisalhos, voz suave e a sabedoria que só o tempo nos concede.

Ser livre para ser feliz

"O medo de amar é o medo de ser livre para o que der e vier, livre para sempre, estar onde o justo estiver. O medo de amar é o medo de ser, de a todo o momento escolher, com acerto e precisão, a melhor direção. O Sol levantou mais cedo e quis em nossa casa fechada entrar. Pra ficar..." (Beto Guedes e Fernando Brant)

Ainda posso sentir o ar quente da balsa que atravessava o rio Tocantins numa “voadeira” de Miracema a Tocantínia. Respirava aventura com o vento batendo direto no meu rosto, o cheiro acre de comida indígena misturado ao frescor da palha que as mulheres teciam cestos. E eram tantas cores, texturas, sabores... O sorvete branco de cupuaçu, com seu gosto levemente azedo. O doce excessivo e até enjoativo do jenipapo que caía num imenso “ploc”, explodindo no chão e impregnando tudo ao redor com seu cheiro forte. O sabor do refresco de tamarindo, que puxa na garganta. E tantos outros sabores... de manga madura no pé, de banana assada à lenha, de tatu desfiado, de doce encaixotado e oleoso de buriti, um coquinho que tinge tudo de cor de abóbora.
Não lembro nomes e detalhes, mas não esqueço das sensações, como a de levar para lá e para cá uma tela em branco e um monte de tinta a óleo, degustando cada segundo de espera para o que viria a ser meu grande quadro, a obra-prima. O mesmo prazer que eu sentia ao olhar para uma folha em branco de papel sulfite, na pré-escola, ou escolher a cor que preencheria a maçã. O prazer das mil possibilidades. O prazer de ser livre.
Andando de bicicleta até o rio, em estradinhas empoeiradas e vermelhas de barro e sol de Tocantins, cercada pelo verde que exalava um perfume de mato virgem, eu me sentia livre. Livre e feliz. Poucas vezes me senti assim, tão genuína. Quando era criança e saía da casa da minha avó para a minha casa, quase ao lado, tarde da noite, podia correr e adorava correr pela rua deserta até a esquina, correr no lugar que de dia pertencia aos carros. Era como se a rua fosse só minha, eu fosse maior que os carros. Um tipo de poder.
As coisas simples são mais gostosas. Um rio para banhar, um sol para esquentar e um céu para contemplar, eis a vida! O som de pássaros e de cigarras, o horizonte sem fim e a lua sobre o mar são maravilhas. Na cidade não vemos isso e nos esquecemos da simplicidade. A gente trabalha muito, vive para trabalhar e não o contrário. Perseguimos o dinheiro e esquecemos que ele é apenas papel, quase sempre velho, fedido e sujo. Trocamos liberdade, amor, fé, saúde, tudo por dinheiro, iludidos com a propaganda do cartão de crédito.
Queria escrever um livro para uma criança ou adolescente sobre o meu sentido de vida. Mas no fundo mesmo eu queria era me convencer a mudar radicalmente a minha. Falar das coisas boas como comer bolo de mãe com café e leite, deitar no colo dela e se permitir ser criança de novo. Quando a gente é criança tudo é fácil, espontâneo. Choramos sem pudor, reivindicamos atenção e rimos até ficar com dor de barriga. Um copo de água com açúcar vira refresco, um papel e lápis coloridos uma ampla possibilidade, qualquer história nos faz protagonistas do faz-de-conta que sai das páginas de um livro para a vida real, que só existe na nossa cabeça. Mas crescemos e aprendemos a reprimir. Lá um dia tentamos lembrar, recompor, quem éramos de verdade e... Tarde demais! Não lembramos de mais nada. O tempo, as responsabilidades, as pressões nos imprimem máscaras, nos fazem mentir sobre nós mesmos, nos conduzem a outros caminhos.
E hoje nesta tarde ensolarada, enquanto meus filhos dormem, penso no que fui e no que quero ser. O que você quer ser quando crescer? É a pergunta que mais ouvimos na infância. Tem uma hora na vida que alguém lá do coração pergunta baixinho: O que você quer ser quando encolher? Essa pergunta tem duas implicações: encolher no sentido de envelhecer e encolher no sentido de voltar a ser criança. Quando Jesus falou que ninguém entraria no céu se não fosse como uma criança, acho que ele queria dizer isso. Resgatar sonhos, desejos, alegrias. Purificar a alma.
Sou jornalista e dediquei muito do meu tempo à função de divulgar notícias, nem sempre boas. Parece simples, mas não é. Eu sonhava em ir para algum lugar insólito, viajar muito pelo mundo e escrever notícias de lá, além de fotos, muitas e belas fotos. Nunca saí do Brasil e passei horas em jornais pequenos, insalubres, sob o comando de pessoas sem paixão, que só pensam em lucro. Em meio a tantas responsabilidades e sob o peso delas, que dói costas e cabeça, não vi meu filho mais velho crescer. Ele nasceu e, de repente, estava maior que eu, um jovem alto, magro e crítico demais. Aprendeu comigo. Que legado... Agora tenho outros dois filhos, um pequeno e outro recém-nascido. Não quero que aconteça a mesma coisa. Peço perdão ao meu belo rapaz, mas não conseguirei voltar no tempo. O que eu fiz e o que eu não fiz são irreversíveis porque passou. O bom é que podemos, juntos, curtir a infância dos outros dois, mergulhar com eles no mundo mágico das cores, sonhos e sabores. E assim voltar à nossa real essência. E quem sabe, um dia, fazer uma linda matéria em Tocantins.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Imite os gatos

"Não faço nada, e ainda morro de preguiça. Tenho sono o dia inteiro. Madrugada é que me atiça" ("Gata", Marina Lima)

Observe os gatos. Como são lânguidos, elegantes e relaxados. Só ficam estressados na hora certa: quando miram um pobre passarinho ou algo que queiram pegar. E mesmo no momento da caça, primeiro ficam quietos, só em campana (como diria um policial), até dar o salto certeiro para o ataque.
Faça como os gatos, então. Aprenda a ficar tenso só quando necessário: para fugir ou enfrentar uma situação real. É para usar o hormônio do estresse só de vez em quando, numa situação de emergência. No cotidiano, de forma banal, ele começa a fazer mal e fica crônico. Deixa doente.
Para relaxar como os gatos, comece praticando alongamento da forma mais simples possível: espreguiçando-se! De manhã, quando acorda. De noite, quando vai dormir. E durante o dia, quando der.
Quem quiser acalmar a mente, além de esticar o corpo, faça assim: deite, feche os olhos e relaxe o corpo aos pouquinhos. Procure não pensar em nada e se concentre apenas no relaxamento. Largue-se. Comece pelos dedos dos pés, pelas pernas, pelo quadril e vá subindo até a cabeça. Sinta os músculos descontraírem devagar. Se quiser, ponha uma música suave, só instrumental, e um cheirinho bom de incenso (só com janela aberta) de lavanda ou sprays suaves e cítricos (A Blue Gardênia tem uns ótimos; pena que são caros). Quando estiver sem nenhum foco de tensão, levante devagar, respire fundo e sinta-se outro, muito mais renovado.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Solte a voz

“Alguém cantando longe daqui.
Alguém cantando ao longe, longe.
Alguém cantando muito, alguém cantando bem.
Alguém cantando é bom de se ouvir”
(Caetano Veloso)

Cante. No chuveiro, no trânsito, lavando a louça, para um bebê.
Ignore a opinião alheia – certamente os mais críticos são aqueles que não tentam.
Sinta sua voz e não a julgue. Não importa se você não é um tenor, nem uma soprano.
É uma forma simples de respirar melhor.
Espanta males.
Expande o espírito.
A música é uma linguagem universal.
Perceba o quanto seu humor pode mudar de acordo com o som que ouve. Um violino produz uma sensação relaxante, mas pode trazer energia. Uma guitarra faz tudo vibrar. Os acordes de instrumentos de percussão, os das flautas, cada um tem mil possibilidades. Mas o mais significante é a voz humana.
Se não quiser cantar, ou estiver rígido o suficiente para nem tentar, comece com um mantra. Sozinho, solte a voz num OM que quebre o silêncio e o faça despertar.

domingo, 13 de dezembro de 2009

As voltas que o mundo dá

"Coisas que eu sei. As noites ficam claras no raiar do dia. Coisas que eu sei. São coisas que antes eu somente não sabia... Agora eu sei" (Danni Carlos/Dudu Falcão)

O artigo abaixo é sobre jornalismo e tenta expor um lado pouco conhecido desta profissão difícil, que na prática diária está longe do glamour que a maior parte das pessoas imagina.

Por Nádia Almeida - para o site Observatório da Imprensa, em 2002

De cáqui. Cabelos presos, rosto suado, boca seca, coração apertado, estômago acuado, mas feliz. Era assim que eu me via no começo da faculdade, até um pouco masculina... o suficiente para avançar, com coragem, por terras desconhecidas, garimpar histórias, captar imagens raras, registrar momentos e pessoas.
Naquela época, eu considerava jornalismo muito mais que aventura. Seria um atestado de coragem, estado permanente de ousadia, o passaporte que eu precisava para colocar em prática as minhas aspirações. Me via escrevendo numa cabana em algum lugar do Oriente Médio ou da Ásia, contando ao mundo como vivem os africanos em suas pobres aldeias, investigando grupos de resistência em guerrilhas, enviando fotos e textos digitalizados de lugares inóspitos, recebendo polpudos depósitos na minha conta bancária. Enfim, feliz, motivada, realizada, reconhecida nas páginas de jornais e revistas.
O que eu faço, todos os dias, não é jornalismo. É a burocracia da informação. É a maçante tarefa de escrever, ou melhor, de reescrever... releases. Muito chato. Não há quem suporte, exceto aqueles que não têm sonhos. Não é o meu caso. Sou romântica, como diz minha professora de Fotografia (que, aliás, está soprando a lenha corada, brasa de monturo, em que se transformou minha vida profissional). Romântica a ponto de achar que as pessoas vão elogiar meu trabalho sem que eu precise fazer algo que as motive, ou as obrigue. Romântica a ponto de me deixar conduzir pela vida, varrida pelo vento para aqui e acolá... vento não, diria uma brisa, fraca, incapaz de me projetar profissionalmente.
Em 10 anos de profissão, junto os cacos das matérias que fiz para tentar montar o quebra-cabeça da minha trajetória. Não vejo nenhuma reportagem estonteante, não vejo prêmios, não sinto, nas letras negras impressas em papel-jornal, a adrenalina que faz a gente ter energia para fugir de um tigre ou se jogar de cabeça numa grande matéria. Não uso cáqui, não tenho uma mochila nas costas, em vez de botas grossas uso chanel preto de salto médio.
O estilo aventureiro nunca se materializou. Até meu texto perdeu o vigor, ficou anêmico. Vez ou outra há alguém que fale: "Gostei do editorial" (sinceramente, a única coisa que me dá prazer nesse meu cotidiano de tédio). A última vez que ouvi um elogio sincero faz uns quatro anos, da minha colega Lili, que disse que meu texto estava gostoso de ler. A última porrada (desculpe a palavra) foi em mais um teste frustrado para trabalhar como repórter, quando a editora disse que "faltava molho" no meu texto. Foi quase um nocaute. Quase.
Na verdade me fez pensar, me fez avaliar e perceber que nem rota eu tracei para a viagem que eu pretendia. Me formei assim, displicente, sem mapa, sem bússola, sem objetivos estabelecidos, achando que a vida se encarregaria de me guiar. Aí cheguei aqui.
Não posso dizer que estes anos se passaram em branco. Pelo contrário, acho que aprimorei meu senso crítico (e me tornei uma chata!), em especial com recém-formados e assessores de imprensa. Trabalhei pouco como repórter, a maior parte do tempo fui editora, como agora. Criei algumas coisas, pari um jornal e um setor de comunicação. Aprendi muito, especialmente a ouvir. Se meu texto perdeu o vigor por falta de aventura, sua construção gramatical ficou mais fácil. Posso dizer que domino o idioma, embora ainda não saiba citar regras de cor, derrape na concordância e faça confusões ao conjugar alguns verbos defectíveis. Já não sofro da Síndrome da Tela em Branco nem do Complexo de Clark Kent.
Cá estou: heroína sem vítima, narradora sem história, jornalista sem notícia. Minha calça cáqui virou um tubinho básico, minha bota virou salto alto, meu jipe virou sedã. Hoje sobrevivo a uma mesa, soterrada de releases. Estou com 31 anos e me pergunto: quem há de me salvar dessa prisão em forma de mediocridade?
Acho que não vou ser correspondente internacional, nem enviar meus textos de um campo de batalha. Minha guerra é aqui mesmo, na redação. Minha batalha diária é vencer o desânimo que impregna um jornal cuja prioridade não é a notícia, mas o anúncio. É driblar a falta de investimentos, cortes dos poucos recursos disponíveis, para oferecer o mínimo de qualidade ao leitor. É enviar a este mesmo leitor, disfarçada nos editoriais, como códigos secretos, uma verdade amordaçada por interesses políticos. É tentar tirar força não sei de onde para motivar outros colegas com baixos salários quando os meus direitos não são respeitados. É não se conformar com aqueles que temem o risco da profissão e se contentam com a notícia pronta, sob medida, dos órgãos oficiais, ser tolerante com a falta de vontade. Mas, afinal, este é o meu ofício. De uma forma ou de outra, estou na luta.

Filtro solar, com Pedro Bial


A primeira vez que ouvi o Pedro Bial declamando esta música-texto foi marcante. Eu estava num estúdio de rádio, como comentarista de um programa de notícias. São conselhos não só para combater a Síndrome da Pressa, mas úteis para toda a vida, especialmente aos jovens. A narração dele cai muito bem, com uma música deliciosa de fundo e um trecho em inglês. Aqui vai a letra. Reflita e, se quiser, pratique:

Filtro Solar, Pedro Bial
Composição: Mary Schmich

"Nunca deixem de usar filtro solar!
Se eu pudesse dar uma só dica sobre o futuro, seria esta: use filtro solar. Os benefícios a longo prazo do uso de filtro solar estão provados e comprovados pela ciência; já o resto de meus conselhos não tem outra base confiável além de minha própria experiência errante.
Mas agora eu vou compartilhar esses conselhos com vocês.

Aproveite bem, o máximo que puder, o poder e a beleza da juventude.Ou, então, esquece... Você nunca vai entender mesmo o poder e a beleza da juventude até que tenham se apagado. Mas, pode crer, daqui a vinte anos, você vai evocar as suas fotos e perceber de um jeito - que você nem desconfia hoje em dia quantas tantas alternativas se lhe escancaravam à sua frente, e como você realmente tava com tudo em cima. Você não é tão gordo(a) quanto pensa!
Não se preocupe com o futuro. Ou então preocupe-se, se quiser, mas saiba que pré-ocupação é tão eficaz quanto mascar chiclete para tentar resolver uma equação de álgebra. As encrencas de verdade de sua vida tendem a vir de coisas que nunca passaram pela sua cabeça preocupada, e te pegam no ponto fraco às quatro da tarde de uma terça-feira modorrenta. Todo dia enfrente pelo menos uma coisa que te meta medo de verdade. Cante.

Não seja leviano com o coração dos outros. Não ature gente de coração leviano. Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes se está por cima, às vezes por baixo. A peleja é longa e, no fim, é só você contra você mesmo. Não esqueça os elogios que receber. Esqueça as ofensas. Se conseguir isso, me ensine. Guarde as antigas cartas de amor. Jogue fora os extratos bancários velhos. Estique-se.
Não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam, aos vinte e dois, o que queriam fazer da vida. Alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem. Tome bastante cálcio. Seja cuidadoso com os joelhos. Você vai sentir falta deles. Talvez você case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante. Faça o que fizer, não se auto-congratule demais, nem seja severo demais com você. As suas escolhas tem sempre metade das chances de dar certo. É assim pra todo mundo.
Desfrute de seu corpo. Use-o de toda maneira que puder. Mesmo. Não tenha medo de seu corpo ou do que as outras pessoas possam achar dele. É o mais incrível instrumento que você jamais vai possuir. Dance. Mesmo que não tenha aonde além de seu próprio quarto. Leia as instruções, mesmo que não vá segui-las depois. Não leia revistas de beleza. Elas só vão fazer você se achar feio.
Dedique-se a conhecer os seus pais. É impossível prever quando eles terão ido embora, de vez. Seja legal com seus irmãos. Eles são a melhor ponte com o seu passado e possivelmente quem vai sempre mesmo te apoiar no futuro. Entenda que amigos vão e vem, mas nunca abra mão de uns poucos e bons. Esforce-se de verdade para diminuir as distâncias geográficas e de estilos de vida, porque quanto mais velho você ficar, mais você vai precisar das pessoas que conheceu quando jovem.
More uma vez em Nova York, mas vá embora antes de endurecer. More uma vez no Havaí, mas se mande antes de amolecer. Viaje.
Aceite certas verdades inescapáveis. Os preços vão subir. Os políticos vão saracotear. Você, também, vai envelhecer. E quando isso acontecer, você vai fantasiar que quando era jovem, os preços eram razoáveis, os políticos eram decentes, e as crianças respeitavam os mais velhos. Respeite os mais velhos. E não espere que ninguém segure a sua barra. Talvez você arrume uma boa aposentadoria privada. Talvez case com um bom partido. Mas não esqueça que um dos dois pode de repente acabar.
Não mexa demais nos cabelos senão quando você chegar aos quarenta vai aparentar oitenta e cinco. Cuidado com os conselhos que comprar, mas seja paciente com aqueles que os oferecem. Conselho é uma forma de nostalgia. Compartilhar conselhos é um jeito de pescar o passado do lixo, esfregá-lo, repintar as partes feias e reciclar tudo por mais do que vale.
Mas no filtro solar, acredite!"

Respiração iogue

Essa é para começar bem a semana.

Aprenda a respiração iogue, boa para normalizar a pressão. A dica é da jornalista Sônia Hirsch (depois escreverei sobre ela e seus livros).

Sente-se numa cadeira, com as costas eretas e pés no chão, firmes.
Respire alternadamente pela narina esquerda e pela narina direita, usando o polegar e o quarto dedo (anelar) para tapá-las. Entendeu? Tape a direita, inspire pela esquerda; tape a esquerda, expire pela direita.
Parece complicado, mas não é. Como tudo na vida, com prática fica fácil.

Domingo de chuva: meditando na cozinha


“Um dia frio. Um bom lugar pra ler um livro” (Djavan)

Hoje amanheceu assim: um domingo cinza e chuvoso. Bom para ler, como sugere Djavan. Mas também para cozinhar. O quentinho do fogão e o cheirinho de comida boa são bálsamos para a alma e o estômago, mesmo que a gente tenha que malhar muuuito para queimar as calorias.
E já que é domingo, tradicionalmente dia de não fazer nada, que tal praticar meditação culinária? Quando você se concentra no preparo dos alimentos, pensando em dar o seu melhor para nutrir (e encantar) a quem ama, pratica uma forma de desaceleração. Esqueça a tradicional macarronada com molho pronto. Sugiro que você faça um prato saboroso, simples e demorado de fazer, como a feijoada tão brasileira. O preparo é fácil, mas são vários processos: deixar feijão e carnes de molho, cozinhar cada um no seu tempo certo (começando, claro, pelos ingredientes mais resistentes), temperar e esperar que a chama faça seu trabalho, como diz o Anonymus Gourmet. No fogão à lenha seria maravilhoso. Luxo para poucos.
Uma sopa também pode ajudá-lo a ficar em paz. Cortando miudinho cada tipo de legume, temperando e selando a carne no azeite quente, juntando caldo de galinha (feito em casa é bem mais nutritivo e light que o de cubinho, bastando tirar a pele do frango e cozinhar até amolecer, com temperos verdes) e esperar, esperar, esperar o ponto.
Também sugiro uma receita especialíssima, que aprendi com meu marido, e adoro fazer no inverno. É risoto de alcachofra. É pra comer rezando, mas precisa ter paciência de monge para fazer.
Vá à feira e encontre as melhores alcachofras (segundo minha sogra, elas têm de estar “sorrindo”). Em casa, lave umas quatro e cozinhe-as até começar a soltar as pétalas. Aí vem a meditação: você pega cada uma das pétalas e raspa a massinha verde num prato fundo. Cada uma. Guarde algumas para enfeitar. Quando chegar ao fundo, retire aqueles pelinhos dourados e jogue fora. O fundo propriamente dito deve ser picado miudinho e reservado. Pegue a massa e passe tudo pela peneira, com a colher e jogando um pouquinho de água no final (que servirá para o caldo). Esprema para só restar as fibras. Calma... essa é só a primeira parte!
Na sequencia, coloque manteiga para aquecer (cuidado para não queimar) e uma xícara de arroz próprio para risoto (italiano mesmo, tipo arbóreo, que dá cremosidade e se mantém tenro, sem empapar). Refogue em chama alta. Se quiser, antes de por o arroz adicione alho bem picado. Quando começar a dourar, jogue uma xícara de vinho branco. Abaixe o fogo e respire bem fundo. Toda vez que for secando, coloque uma xícara de caldo de galinha ou legumes (como disse, natural é melhor que o artificial – deixe a preguiça de lado e faça o seu, com cenoura, alho-poró e outros vegetais. Eu aproveito o caldo da própria alcachofra). Esse processo – seca, molha; seca, molha – vai se repetir até que o arroz esteja macio e o caldo levemente cremoso. Um pouco antes do ponto, entre com a alcachofra reservada à panela. Deixe cozinhar mais alguns minutos, mas o caldo ainda deve estar um pouco ralo. Corrija o sal (prove para saber). Desligue o fogo. Junte uma colher cheia de manteiga e muito queijo parmesão (de boa qualidade, nada daqueles de saquinho do mercado; na feira vendem em pedaço).
Por fim, deite este risoto delicioso num refratário e divirta-se decorando. Aqui em casa gostamos de colocar fatias de tomate com filezinhos de aliche, azeitonas pretas, alho tostado ou simplesmente mais parmesão. Leve ao forno para gratinar. Arrume a mesa bem bonita. Nunca guarde louças novas para uma ocasião especial. A ocasião especial é hoje. Minha avó guardava as porcelanas chinesas que ganhou no casamento, preferindo usar aquelas baratinhas nas refeições, e morreu sem desfrutar deste pequeno prazer. E nem eu consegui herdá-las, pois acabaram quebrando na caixa por algum desavisado.
Coma com satisfação, saboreando lentamente cada colherada (afinal, para que tanto trabalho?), de preferência junto às pessoas que te fazem bem e com um bom vinho branco. Os chilenos têm boas safras.
Depois disso, não ria agora, mas enfrente a louça com satisfação. Acredite, é relaxante lavar pratos. Depois vá para a cama, para uma merecida sesta ou, quem sabe, prolongar o romantismo da receita.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Férias à vista


“Eu não tenho compromisso, eu sou biscateiro. Que leva a vida como um rio desce para o mar. Fluindo naturalmente como deve ser. Não tenho hora de partir, nem hora de chegar” (Milton Nascimento e Fernando Brant)

Turista em férias é um problema. Não tem pressa pra nada, acha legal ficar na fila do pão, não se importa com congestionamentos e o pior, tudo com aquele ar relaxado e com um irritante sorriso no rosto. E você, em pleno dia de trabalho, correndo para não ter descontado o atraso no fim do mês, com o horário apertado para levar as crianças na escola, querendo sair logo do banco para finalmente chegar em casa... Rrrhuuuu... Sim, você chega a rosnar, mas ele não está nem aí. Se é temporada de verão, ainda chega ao cúmulo de exibir o maior bronze de praia que faz sua pele pálida feito uma azeitona com anemia parecer ainda mais desbotada.
Aí chega o dia em que você sai de férias. (A propósito: você faz isso de vez em quando, não faz? Tipo, na última década?) Lá, numa Campos de Jordão cheia de gente, você exibe aquele mesmo ar relaxado e o sorriso no rosto, sem se importar com os bares sem lugar para tomar um simples capuccino, em ter que esperar na fila para entrar naquele restaurante badalado, com o preço nas alturas do cachecol verde flúor (última moda que seu armário vai a-do-rar usar), com os quilos a mais de tanto chocolate. Enfim, você virou turista. Esqueceu até o relógio!
Férias é isso: relaxamento. Não abra mão deste prazer. É uma tortura na hora de arrumar e desarrumar as malas, mas compensa cada minuto ver novas paisagens, pessoas diferentes, ouvir sotaques distantes, descobrir coisas inusitadas e ousar. Em estado normal você nunca pularia de pára-glider, nem assumiria que não entende nada de mapas rodoviários, mas como turista você pode tudo (menos jogar lixo na rua).
Saem de cena o paletó e a gravata, o escarpin e o tailleur. Aquela bermuda cáqui e o chapéu de Indiana Jones são bem melhores. Tênis, camisetas, vestidinhos, a canga rosa-choque e a sunga com estampa de onça... Onde mais você usaria?
Em viagens, as pessoas mudam completamente. Saem do normal. São outras. E na volta, apesar da tristeza em se despedir do período zen, trazem na bagagem muitas fotos, lembranças e aquela pontinha de saudade de voltar à velha rotina. Que nem parece a mesma porque você já nem se importa com a fila do pão, do banco, da saída da Cidade... A vida segue seu curso, lenta...

A armadilha da falta de tempo

“Todo chato é bonzinho,
nunca nos faz nenhum mal.
Todo chato é calminho,
como se faltasse sal.
(...) Diz que inventou uma música
e toca as seiscentas que fez.
E quando você abre a boca e boceja
ele toca tudinho outra vez”
(O Chato, Oswaldo Montenegro)


Sabe aquela tia que sempre que te encontra na fila do supermercado pergunta quando você vai visitá-la? Basta ela apontar no caixa e a tua resposta está na ponta da língua: “Ando sem tempo”. Falta de tempo virou a desculpa perfeita para afastar os chatos e ao mesmo tempo parecer legal, ou melhor, ocupadíssima... Tem coisa melhor? É justificativa para não ter acabado de ler aquele livro-porre que você pagou uma nota ou um primo te emprestou sem você ter pedido, para deixar na gaveta aquele projeto antigo, não comparecer ao almoço de família, e por aí vai.
Até que um dia você se pega acreditando nas próprias palavras e se convence de que não tem tempo para nada. Essa é a armadilha da falta de tempo. Vira hábito. Um péssimo hábito.
Para evitar, afaste os chatos com gentileza, mas com verdade. Diga para aquela vizinha que você não quer ir a casa dela aprender a fazer bolo de abobrinha porque culinária definitivamente não é seu forte. Diga para a tia que, bem, que... No Natal você aparece. Encare o projeto que se arrasta há anos e decida se faz ou não: procrastinação deveria ser crime. Confesse para si mesma que detestou aquele livro e dê para alguém. Rasgue a dieta dos pontos. Admita que não quer ir à academia. Liberte-se! Diga “não”. É seu direito constitucional.

Desacelere, pela paz no trânsito

“Não quero um dia a mais. Quero um dia de paz” (Herbert Vianna)

A pressa em excesso faz a gente abusar do velocímetro. Quantas vezes desejei que meu carro fosse equipado como o do Batman, que em meio àquele enorme congestionamento sobrevoasse a avenida e me fizesse chegar a tempo. E quantas mais pisei fundo no acelerador para tentar chegar mais rápido ao destino. Fazer uma conversão errada, trafegar acima do permitido, avançar sinal vermelho: quem não cometeu um desses delitos que atire a primeira pedra (mas não no vidro, por favor).
O lado mais perverso da urgência é quando, estressados, encontramos alguém em estado pior. Colisão frontal, não raro perda total. Quando dois motoristas se atacam verbal ou fisicamente por conta de uma fechada, ultrapassagem ou qualquer outro motivo banal, a vida está em risco. Recentemente um menino de dois anos foi assassinado numa discussão entre o condutor, seu tio, e outro motorista, que resolveu atirar no carro que transportava crianças.
Antes de sair de casa, busque paz. Dentro do volante, tenha claro em mente que um automóvel é só isso: um veículo de transporte, não uma arma, nem símbolo de poder. Na estrada, acho graça daqueles caminhões imensos que trazem a inscrição “Globetrotters”, lembrando os gigantes das quadras de basquete. Alguns, entretanto, acham que o tamanho do veículo lhes dá o direito de literalmente passar por cima de quem se atrever ficar no seu caminho. São os donos da estrada. Por outro lado, também são vítimas dos abusadinhos, que desdenham a lentidão dos veículos de carga e acham que rapidez é tudo.
Se alguém quiser ultrapassar, dê passagem. Pode ser uma emergência. Nunca aceite provocações, nem desafie o outro, pois você não sabe quem ele é e o que tem no porta-luvas. Respeite as regras de trânsito, as sinalizações e os limites de velocidade (vou ser xingada, mas... benditos radares!). Por fim, desacelere. Nada pode ser mais precioso que o seu bem-estar. Pratique direção defensiva. Seja gentil com pedestres. Instale um aparelho de som e relaxe ao som de boa música quando o trânsito parar. Diga sim para a paz. Diga sim para a vida.

Pais no piloto-automático e crianças invisíveis


“É só de ninar, e de desejar que a luz do nosso amor, matéria-prima dessa canção, fique a brilhar. E é pra você, e pra todo mundo que quer trazer assim a paz no coração. Meu pequeno amor” – (“Gabriel”, de Beto Guedes e Ronaldo Bastos)

Filhos exigem muito, mas se doam muito mais. Quando uma criança está com seu pai ou mãe sua atenção é só para eles, mas o inverso poucas vezes é verdadeiro. Na correria entre casa, trabalho e um tempo para nós – afinal, não somos de ferro – perdemos o foco. Reservamos o mínimo de tempo para curtir e prestar atenção às pessoas que geramos.
Com tantos compromissos na agenda e deveres na cabeça, dirigimos o carro rumo à escola e à creche com a mente voando longe. Nem notamos que eles estão ali, na cadeirinha, dormindo, ou sentados no assento adaptado. Só quando choram ou fazem alguma travessura, como jogar lixo pela janela, cortam nossos devaneios e olhamos pelo retrovisor aqueles rostinhos carentes, via de regra para mandar parar ou fazer silêncio.
Já pensou que maravilha seria se só o carro tivesse piloto-automático, e não pessoas? Eles iriam guiando sozinhos até os destinos enquanto nós, no banco de trás, conversaríamos alegres com nossos filhos em manhãs ensolaradas. Infelizmente, no mundo real, a pressa e a alienação do mundo moderno levam a tragédias, com bebês esquecidos em carros fechados.
Desatentos estamos também com nossos adolescentes. Aprendi a usar o Orkut para fazer parte do universo do meu filho de 16 anos. Não que eu não consiga falar com ele pessoalmente, mas foi uma forma de descer do palco e entender o mundo dele. Recentemente, assisti ao filme “Os Cavaleiros do Apocalipse”, que retrata bem isso: um investigador viúvo deprimido (Dennis Quaid), que vive para o trabalho e permanece alheio à família, não se dá conta da crise emocional do filho mais velho até o desfecho surpreendente. Não raro o jovem com problemas dá sinais em casa, mas ninguém percebe ou finge não ver.
Da próxima vez que estiver com seu filho, seja ele bebê, criança ou adolescente, veja-o de fato. Desfaça a névoa das responsabilidades que obstruem a visão. Mesmo que por alguns minutos, esteja realmente com ele, brincando, olhando nos olhos, beijando, ouvindo.
Tenho três filhos. O mais velho, adolescente; o do meio, uma criança de 3 anos; e o caçula, um bebê, além da minha enteada, também adolescente. Trabalho o dia todo e, quando chego, tenho duas horas para fazer o jantar, sentar para ver Cocoricó, assistir um trecho do animê Trigun (consegui completar o Death Note!!!), um pedacinho da Hanna Montana ou um clipe do You Tube e amamentar, antes que todos vão para a cama. Quando vou amamentar, o exige total absorção e paciência, respiro fundo e esqueço do resto porque o tempo é dele, não meu. Vivo me policiando. Não é fácil.
Só que, como Beto Guedes na canção que fez para seu filho Gabriel, citada acima, eles são a luz da minha vida. Não há nada mais importante que ouvir os sons de suas risadas: o mundo pára e tudo o mais fica invisível. Assim deve ser. O amor é exigente e cobra consciência e paciência, acima de tudo. Seja feliz e preste atenção aos seus filhos. Que possamos proteger a infância de todas as formas porque só neste curto período da existência o ser humano consegue se aproximar do divino.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Mais dicas

“Deixa a vida me levar” (Zeca Pagodinho)

· Da próxima vez que estiver com uma pessoa especial – marido, filho, pai, mãe, irmã, amiga – dedique seu tempo a ela, exclusivamente. Não permita que preocupações e outras demandas atrapalhem a qualidade da relação.

· Falando em pessoa, a mais importante é você. Não se agrida com tantas cobranças porque isso não faz diferença na forma com que os outros te vêem. Aprendi essa lição a duras penas. Na tentativa de ser aceita pelo grupo e admirada profissionalmente, destruí minha paz interior, afastei pessoas queridas e quase adoeci. Depois de sacrificar a mim mesma em nome da eficiência, descobri que quase virei uma caricatura. Para retomar minha essência, mudei o foco: o que importa não é o que os outros pensam sobre mim, mas a imagem que eu tenho do meu próprio ser.

· Permita-se. Não se culpe em gastar no salão de beleza ou comprando no shopping, mas não supervalorize o dinheiro a ponto de depositar nele a sua felicidade. Afinal, de você estivesse perdido numa ilha de nada adiantaria sacos de notas de dólares – seriam somente pedaços de papel que serviriam, no máximo, para iniciar uma fogueira. Não negue pequenos mimos do dia-a-dia a si próprio.

· Também não seja avarento em relação aos sentimentos. Prefira ser generoso nos beijos, abraços, ternura. Ouça mais, fale menos. Escancare seu amor, não o esconda! Trate com carinho todos que passarem pela sua vida, afinal há tantos carentes no mundo! Elogie, espalhe paixão.

· Jamais opte por medicamentos, em especial os que causam dependência, sem que seja absolutamente necessário e com prescrição de um médico de confiança. Para acalmar, um chá de camomila traz conforto. Um incenso de lavanda, uma volta no quarteirão ou, quando possível, um banho morno são formas simples de relaxar. Quando a TPM chegar às alturas, seja complacente: entre perder um dia de trabalho e agredir colegas injustamente, fique com o pijama.

· Raiva, muitas vezes, é excesso de energia estagnada. Canalize-a para uma atividade física. Se não tem tempo (nem gosto) para academia, faça dança, lutas marciais ou qualquer outro exercício, só não fique parado. A mais básica de todas as atividades – andar – é um santo remédio para acalmar os ânimos.

· Assuma: você não é a Mulher-maravilha ou o Super-homem, nem tem poderes sobrenaturais. Você é alguém de carne e osso, com um pouco de gordura (e daí?), que tem todo direito de errar, ter medo, se sentir frágil e acordar de mau humor. A perfeição não existe. Eu tentei por muito tempo dar conta de todas as demandas e cumpri-las da minha melhor forma. Caí em mim quando conclui: “Quem disse que a minha melhor forma é a forma ideal?”. Deixe o orgulho de lado. Peça ajuda, delegue.

· Confie nas pessoas. Como ninguém é insubstituível, isso vale tanto na família quanto no ambiente de trabalho. Quando você estiver de férias, alguém fará sua tarefa; de uma forma diferente, mas não menos eficaz ou – desculpe se doer – até melhor. Conscientize-se disso e relaxe.

· Dê autonomia a elas. Seu filho adolescente vai quebrar alguns pratos até aprender a lavar louça, pode se perder até conseguir chegar ao seu destino de ônibus, mas é assim que ele aprenderá a andar com as próprias pernas. Essa, talvez, tenha sido a minha lição mais difícil: deixar de proteger meus filhos e fazer tudo por eles. Demorei e, confesso, ainda tenho umas recaídas, mas procuro confiar mais e deixá-los viver suas próprias experiências.

· Cuide-se bem. Hora do almoço, o nome já diz, não é hora do sanduíche de frente para o computador. É o momento de parar para desfrutar de uma alimentação equilibrada e revigorante, de preferência ao lado de pessoas agradáveis e num ambiente legal. Valorize as principais refeições do dia, seja almoço, jantar ou café da manhã. Lembre-se: esqueça a fast food; pratique slow food.

Dicas: pequenas práticas, grandes diferenças

“Uma coisa de cada vez. Tudo ao mesmo tempo agora” (Titãs)

Dentro da minha estratégia para afastar a Síndrome da Pressa e deixar a vida mais tranquila, tento adotar pequenas práticas que, somadas no cotidiano, fazem grandes diferenças. Priorizar é uma delas. Agora, por exemplo, não consigo terminar de escrever porque meu filho mais novo está chorando e ele é prioridade. Vocês terão de esperar um pouco. (15 minutos depois.....) Ok, voltei. Como um bebê de três meses não fala, ele chora para expressar suas necessidades, neste caso, que tinha feito cocô e queria trocar a fralda. Então, bebê limpinho e sossegado, vamos lá:

· Tente não fazer várias coisas ao mesmo tempo. Se você dirige e, simultaneamente, procura um CD no porta-luvas ou um batom na bolsa, o risco de provocar um acidente ou um atropelamento é muito grande. Não vale a pena colocar vidas em risco, especialmente as de quem a gente ama ou a nossa por alguns minutos a mais. Já tomei vários sustos, mas me corrigi a tempo de evitar conseqüências mais graves.

· Da mesma forma, toda vez que o pensamento voar para vários assuntos, não se afobe tentando resolvê-los mentalmente, muito menos na condução de um carro ou quando estiver com pessoas queridas. Reserve um momento tranquilo do dia, de preferência no começo da manhã, para refletir e buscar soluções, item por item. Quando chego ao trabalho, ainda bem cedo, aproveito a sala vazia para planejar o dia.

· Primeiro identifique as situações que o deixa mais ansioso. Observe se existe uma real necessidade em realizar algo dentro do tempo que você estabeleceu ou se é uma exigência interna, um condicionamento. Se for uma demanda real, tente ser mais flexível, pensando no que de pior pode acontecer se o prazo for avançado. Quando sinto que estou ficando nervosa, preocupada em não conseguir cumprir uma tarefa em certo horário, respiro fundo e calmamente, sentindo que o mundo não vai acabar se eu não conseguir. Lembre-se: tente fazer o possível. Como prevenção, sempre deixo o que eu chamo de “margem de segurança”. Por exemplo: se vou levar os filhos a escola ou se tenho uma reunião, procuro sair mais cedo – prefiro esperar que me atrasar.

· Não se cobre tanto. Não será o caos chegar 10 minutos atrasada no dentista ou na reunião de pais e mestres. Quantas vezes você teve de aguardar por uma consulta? Se acontecer imprevistos, relaxe – acontece. Minha avó costumava dizer: “O que não tem remédio, remediado está”. Quando sinto que a vaca está indo para o brejo, faço cara de paisagem e meu coração agradece.

· Ponha um freio no pensamento negativo. Pessimismo pega e aumenta como bola de neve. Também embaça nossa visão da realidade, alimentando fantasias e preocupações desnecessárias. Poupe energia. Pense positivo. Não construa enredos para o que ainda não aconteceu ou para o que você desconhece. Já cometi julgamentos apressados e errados sobre situações e pessoas, mas nem sempre pude reparar minhas injustiças. E procure se cercar de pessoas do bem.

· Não tente lembrar de tudo - agendas existem para isso. Tentei manter várias agendas – uma pessoal, outra profissional, outra empresarial, para ter à mesa, para levar na bolsa... – mas isso me confundiu mais que ajudou. Uma só é o ideal. E simplifique a vida: toda vez que for comprar uma agenda eletrônica e qualquer outro item dessa parafernália eletrônica pergunte-se: “Esse objetivo vai me ser útil?”.

· Quando falar com alguém seja objetivo. Não dê voltas e muitas explicações porque isso só complica. Falo por experiência própria. Minha necessidade de me explicar, me justificar aos outros era tanta que ao invés de entendimento, eu colhia impaciência e equívocos. Depois de refletir sobre a minha conduta, concluí que simplesmente não tinha que fazer relatórios minuciosos sobre todas as minhas ações.

· A falta de percepção é inimiga da calma. Comece a observar o ritmo de seus passos e cheque se não está correndo por hábito. Da mesma forma, note como você fala – a voz não acompanha o ritmo dos pensamentos e quando tentamos emparelhá-los não somos claros o suficiente. Procure pronunciar as palavras devagar e pensar antes de falar. Se detectar algum descompasso, pare, respire devagar e reduza a marcha. Quando agia apressadamente, ficava revoltada com quem falava, comia ou andava devagar – parecia que todos estavam na rotação errada. Com atenção, consegui me corrigir e hoje respeito meu ritmo e o do outro.

· Um exercício interessante: no ápice da urgência, faça tudo o mais lento que puder. Policie-se para não se descarrilar novamente. Se perceber que o problema está no relógio, simplesmente retire o relógio por uma semana e veja o que acontece.

· Outra dica: quando estiver só, pegue álbuns de família e veja fotos suas quando criança e adolescente. Procure lembrar da sua infância, das influências que recebeu e daquilo que se envergonhava. No meu caso, fazendo isso, percebi que a palavra lentidão era depreciativa e que agilidade era sinônimo de aceitação na família e na escola. Reconstruí uma auto-imagem positiva, baseada na minha verdadeira identidade, não em projeções sociais.

· Resgate-se. No atropelo do cotidiano, assumimos outras referências como nossas e nos distanciamos do nosso eu mais profundo. É preciso religar-se a ele. Pense nas suas preferências, olhe para dentro de si com ternura. Na infância, gostava muito de desenhar, pintar, esculpir. Depois que meu primogênito nasceu, acabei abandonando os óleos sobre tela. Mas decidi resgatar isso e estou procurando um curso de aquarela.

· Fique atenta para a mania de plural. Leia um livro e assista a um filme de cada vez. Eu ainda costumo ter vários livros na minha cabeceira e não terminando nenhum. Não desfruto o prazer de ficar absorta numa obra. Da mesma forma, alugo vários filmes para ver no final de semana e depois fico nervosa em ter de ver tudo. O que deveria ser um prazer se transformava em dever, uma chateação. Mas estou mudando...

sábado, 5 de dezembro de 2009

Experimente meditar correndo!

“Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo” (Leila Pinheiro)


Quando ficamos muito inquietos, estressados ou ansiosos, a primeira coisa que fazemos é mudar o padrão da respiração. Percebi que eu prendia a minha ao menor sinal de estresse, mas nem me dava conta. Só notei quando parei para prestar mais atenção em mim.
E uma forma maravilhosa de fazer as pazes com a respiração é a meditação. Temos em mente aquela tradicional, em que o praticante senta em posição de lótus, declama um mantra e entra em “alfa” ao perfume de incenso. Desconecta-se de tudo. Lembrando que o relaxamento é apenas um dos muitos benefícios da meditação – até os mais céticos médicos estão dando o braço a torcer.
Gosto muito do Osho, um mestre indiano cujos ensinamentos habitam a gaveta da minha cabeceira há tempos – tento trazê-los para meu cotidiano. Ele ensina muita coisa bacana, como por exemplo: “Use a energia e se sentirá muito calmo. Essa calma será totalmente diferente da quietude forçada. Você pode se forçar, pode ter energia e reprimi-la, mas está sentado em um vulcão e existe um constante tremor por dentro. Quanto mais energia usar, mais energia fresca estará disponível”.
Correr me parece assustador, mas juro que um dia vou correr uma maratona, já disse isso em post anterior. Não é preciso ir tão longe (no meu caso, é um desafio pessoal). Basta correr na esteira, pela praia, nadar, se exercitar de alguma forma. E respirar muito melhor, oxigenar todas as células do corpo, desobstruir a mente.
O mesmo Osho recomenda uma forma inusitada de meditação, da qual já ouvira falar. Correr uma longa distância. E justifica: “Correr em ritmo lento, correr apressadamente, nadar – qualquer coisa que possa ficar totalmente envolvido. (...) Quando estiver correndo, existe realmente somente o correr, e não aquele que corre. E meditação é isso. Se houver somente a dança, e não o dançarino, isso é meditação. (...) Torna-se meditação qualquer atividade que seja total e na qual não haja divisão entre aquele que faz e o que é feito”.
Perfeito! Tente...

Entenda o que é a Síndrome da Pressa

“Ando devagar porque já tive pressa. E levo esse sorriso porque já chorei demais”
(Tocando em Frente, Almir Sater)

Mas o que é, afinal, a Síndrome da Pressa? Segundo estudiosos, trata-se de uma doença psicológica e comportamental que pode causar não só a perda de qualidade de vida como também problemas de saúde, como os cardíacos, gástricos e os provocados por baixa imunidade. Como cada pessoa tem seu ritmo, umas são mais rápidas, outras mais lentas. Mas quando a rapidez é tão extrema que o próprio mundo parece retardatário, é preciso ajustar o velocímetro.
A expressão Síndrome da Pressa foi definida nos anos 50 por dois cardiologistas americanos que notaram nos pacientes com problemas no coração um determinado perfil de comportamento. Os médicos classificaram dois grupos: o de pessoas que estão sempre ansiosas e com pressa, entre outras características, chamado de perfil tipo A; e o que engloba quem desempenha suas atividades em tempo normal, o tipo B. Todos os pacientes que possuíam o perfil tipo A levavam estilo de vida semelhante e sofriam da síndrome. Quem baniu a palavra calma do dicionário, morre de culpa por ficar sem fazer nada e tem mania de fazer tudo correndo – mesmo que não precise – veste o padrão tipo A.
Os acelerados o são em tudo: no andar, no pensamento, na fala ou em qualquer outra função. Certamente você conhece alguém que executa várias atividades e pensa sobre diversos assuntos ao mesmo tempo. Perfil A assumidíssima, eu leio vários livros ao mesmo tempo (e demoro para concluir um), vejo vários programas quase que simultaneamente (haja controle de TV!), desenvolvo múltiplos projetos. Também me sinto desconfortável com o ócio, mas a falta de lazer não é o único problema das vítimas da síndrome. A própria convivência com os outros torna-se difícil, em especial com pessoas do patrão B. Consideradas impacientes e perfeccionistas, chegam a ser mal educadas: se alguém fala muito, é prolixo ou dá voltas para concluir um raciocínio, elas já põem palavras na boca do coitado. Quantas milhões de vezes ouvi minhas entrevistas no gravador e constatei que simplesmente cortei o entrevistado várias vezes, muitas na hora que ele falaria algo importante para a matéria.
Uma estudiosa esclareceu ainda que, para estar a todo vapor, a pessoa estimula a produção de catecolamina, que gera adrenalina constantemente. E mais: existe uma ligação entre o estresse e doenças psicológicas como a Síndrome do Pânico e a depressão, pois essas pessoas não admitem o fracasso. Delegam pouco, acham que podem fazer tudo mais rápido e melhor do que qualquer um.
A doença pode ser desencadeada por diversos fatores - externos e internos, reais ou imaginários. No âmbito social, a própria velocidade da informação e estimula o imediatismo. A cura está na mudança do estilo de vida, mas principalmente na autoanálise. É preciso parar para investigar os motivos que geram esse comportamento. Compreender seus próprios limites, aumentar o nível de tolerância, fazer uma coisa de cada vez, praticar meditação e descarregar energia nos esportes são boas dicas.

Capim-cidrão


"Com açúcar, com afeto" (Chico Buarque)

Capim-limão, capim-cidreira, capim-cidrão, capim-santo... São muitos nomes, mas o mesmo efeito calmante. Pega fácil, se quiser ter um pé em casa basta uma muda, sol e muita água. Para quem nunca viu, parece capim, mas o cheiro é delicioso. E como é saboroso! Só não confunda com citronela, erva que também parece capim, é igualmente perfumada, mas não pode ser consumida.
Anote e beba à vontade no verão:

Suco com abacaxi

Bata folhas de capim-cidrão com água gelada no liquidificador. Coe o líquido verde. Volte ao liquidificador, adicione pedaços de abacaxi e açúcar ou adoçante. Pronto. Delicioso e refrescante.

E no inverno...

Chá

Ponha água para ferver e adicione folhas de capim-limão. Desligue, tampe e espere alguns minutos para saborear, com açúcar.

Nota: experimente antes de dormir. Camomila e cidreira têm o mesmo efeito, mas na minha opinião não são tão gostosas. Atualmente, o capim-cidrão é matéria-prima de perfumes e cremes, dando chance a quem quiser potencializar seu efeito - sem fazer propaganda, a Natura tem uma linha ótima.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

O que Kelly Slater tem a ver comigo

“As brigas que ganhei, nem um troféu, como lembrança, pra casa eu levei.
As brigas que perdi, estas sim, eu nunca esqueci, eu nunca esqueci”
(Pato Fu)

Sempre tive muitos amigos praticantes de surf, mas eu nunca subi numa prancha. Nos campeonatos que assisti, lembro apenas das músicas, como “Bed in Burn”, do Midnight Oil, adrenalina pura. Fã ou não, impossível ignorar o charme deste esporte, que desfila talento, ousadia e corpos esculpidos pelo mar e coloridos pelo sol. E quando se fala em surf, o incrível Kelly Slater surge no topo. Difícil imaginar que um cara lindo, popular, rico e ágil como um peixe pode ter sofrido bulling na infância. Li que sofreu. Teve que conviver com piadas com seu nome, Kelly, feminino, e com o trocadilho de seu sobrenome, “Is later”, "atrasado".
A Psicologia comprova e Freud explica: muitos dos nossos problemas está na infância. Quando eu era menina, lembro-me de que me chamavam de lenta. Agilidade nunca foi meu forte. Se eu caía, demorava para levantar. Se eu subia numa árvore, não conseguia descer. Se alguém me batia, não sabia revidar. Por me achar inadequada, nunca consegui correr direito – nas aulas de educação física, quando a turma tinha que correr em círculos, eu sempre ficava por último e desistia. Que meu filho não me ouça (ou melhor, não me leia), mas forjava atestado médico para não ir às aulas. Também nunca joguei vôlei, que era moda nos anos 80. Em qualquer rodinha, na praia ou na rua, essa era a atividade preferida e eu, a única que tinha medo da bola.
Meu medo era de errar, na verdade. Nem tentava para não passar vexame. Eu já me adiantava no julgamento, minha mente dava conta do filme todo e eu encontrava um jeito de sair fora. Não que eu não quisesse. Na verdade, não me achava capaz.
Nas primeiras quase duas décadas de vida, essa foi minha realidade. As pessoas me chamavam não só de lenta, como de adjetivos como delicada, flor de estufa, manteiga derretida, meiga. Cresci me achando um ser frágil como uma bolha de sabão. Meus pais e avós também não me deixavam brincar como as crianças da rua, nem com elas. Então filha única, vivia confinada no quintal (ah, se existisse Backyardigans neste tempo...) e limitada à soleira do portão.
Nas quase duas seguintes, me vi ao lado de pessoas ásperas, brutas, agressivas, vividas, tendo que dar conta de vários desafios, e sozinha. Assumi, não sei se por condicionamento ou não, comportamentos contrários aos da infância e adolescência. Incorporei o inverso: era muito rápida, até demais; rígida, ríspida, dura, para dar conta de demandas reais e imaginárias, externas e internas.
Perto dos 40 anos, meu desafio foi me voltar para dentro. Quando olhei para mim com mais atenção, não vi apenas algumas rugas e cabelos brancos. Vi alguém perdido, desligado da sua essência. Teria que me religar. E, quem sabe, finalmente, correr uma maratona ou jogar vôlei na praia.

Fast food x Slow food: retomando o prazer

"Bom é não fumar. Comer, só pelo paladar. Comer de tudo que for bem natural. E só fazer muito amor, que amor não faz mal" (Joyce)


Antes de falar de estratégia, acho interessante contar um pouco sobre como cheguei aqui.
Comecei a sentir os efeitos negativos da pressa excessiva no jornal onde trabalhava como editora. Exigia muito, e de todos. Na verdade, acho que eu já vinha agindo assim por um longo período e nem percebia.
Sentira um estalo havia uns dois anos, quando uma amiga, num almoço, comentou: “Sempre com pressa! É para não perder o hábito?”. Não gostei do comentário jocoso, mas percebi que ela tinha razão. Embora tivesse tempo suficiente para desfrutar a refeição saborosa no aconchegante restaurante japonês, preferi comer em cinco minutos. E voltei à redação vazia, recolhendo-me, sozinha, ao meu “aquário” com vista para a principal avenida da cidade. Apenas observava as pessoas indo de um lado para outro, a vida passando, e eu ali.
Era como se eu não me sentisse merecedora de relaxar e simplesmente comer bem. Nem preciso dizer que eu vivia de fast food. Almoçava sanduíches, iogurte para beber, macarrão instantâneo, pastel, tudo o que fosse rápido. Certo dia, navegando pela net, descobri a slow food. De cara, aquele negócio me pareceu estranho, algo como ter de mastigar 500 vezes uma folha de alface, e só de pensar me deixou irritada. Mas a curiosidade foi mais forte e resolvi conhecer.
Trata-se de um movimento que segue o conceito da chamada “ecogastronomia”, unindo o prazer e a alimentação com consciência e responsabilidade. Conscientes da relação entre o prato e o planeta, o praticante se sente melhor, conseguindo até eliminar probleminhas gastrointestinais típicos dos apressadinhos. Veja mais no site http://www.slowfoodbrasil.com/, que traz tudo o que você precisa para adotá-lo no dia-a-dia.
Algo em mim me impedia de sentir o prazer de saborear um delicioso sushi em paz, na sagrada hora do almoço. O resgate do prazer de comer me remontou a uma palestra com a divertidíssima psicóloga Ana Canosa, que cobri como assessora de imprensa. Falando sobre “Sexualidade na Adolescência” para profissionais de saúde, ela abordou que quando falta prazer na própria vida, certas pessoas tendem a condenar os que são felizes. Ilustrou com uma cena ótima: um casal de jovens em pleno “amasso” no muro da escola e aquela mulher que passa, olha, torce o nariz e faz “tsk, tsk” com um ar de reprovação - na verdade, inveja disfarçada de moralismo.
Trouxe isso para a minha realidade. Meu ritmo de trabalho não era o dos outros e o pior era ocupar cargo de chefia. Não admitia dispersão e, no início, até protestava. Depois, preferia me fechar em meu mundo de workaholic. Sentia-me deslocada, injustiçada e aquilo me deixava mal. Cheguei a me desentender com algumas pessoas e o clima foi ficando cada dia mais pesado até a inevitável demissão.
Observando o passado à luz de Ana Canosa, acho que faltava mesmo prazer na minha vida. Levar as coisas menos a sério e não só trabalhar, mas também rir, cantar, tomar um café sem culpa. E era em busca desta leveza que eu tentava emergir das turbulentas águas da ansiedade.
“Mulher-urgente” virou meu apelido no outro emprego. Tudo parecia natural, afinal sou jornalista, do tipo “Pra ontem!”, e aquela era só mais uma gozação da tribo. Mas isso começou a me incomodar. Tanto que parei, decidi mudar e comecei por fazer uma auto-análise para tentar desvendar a origem do problema.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O início: como surgiu a ideia de criar este blog

"Tempo, tempo, mano velho, falta um tanto ainda eu sei, pra você correr macio..." (Pato Fu)


Dizem que o apressado come cru. Acho que ele não come nunca! Vive olhando compulsivamente para um relógio qualquer e não se desliga de nada, exceto da sua própria essência, do seu bem-estar. Foi assim comigo.
Meu verbo preferido era “poder”. Achando que eu podia fazer tudo, levava matérias para fazer em casa, depois de 12 horas de trabalho, assumia múltiplas funções, fazia o trabalho dos outros. Isso só no âmbito profissional. Cheguei a fechar, sozinha, como única repórter e editora ao mesmo tempo, um jornal tamanho standard de oito páginas, três vezes por semana. E ainda era mãe, mulher, cidadã, amiga e tudo o mais.
Jornalismo é assim. Não é à toa que os recém-formados são chamados de “focas”, pois parecem mesmo esses animaizinhos elétricos e curiosos. A agilidade é primeiro quesito, talvez por isso tantos erros, gramaticais e de informações, surgem na mídia. A palavra tempo não existe no dicionário dessa profissão, onde impera o “dead line”. Por isso, durante anos achei que fazia a coisa certa, que era aceita e admirada pela minha extrema objetividade.
Meu despertar definitivo para o que parecia ser uma característica normal, e que era um problema de saúde (física e mental), deu-se nas páginas de uma revista feminina que abordava a tal Síndrome da Pressa. Logo de cara me identifiquei com o perfil mais comum e conclui que estava sofrendo desse mal.
Fiz análise, mapa astral, pesquisei minhas constelações familiares, li muitos artigos para tentar entender o lugar exato em que me desviei do meu caminho para pegar um atalho. A análise transacional, com a terapia Gestalt, me esclareceu alguma coisa e ajudou a clarear o presente considerando meu passado.
Confesso que não sei a partir de quando passei a ser excessivamente apressada, nem lembro se já era assim. Meu pai parece hiperativo, talvez seja um componente hereditário. Na falta de um diagnóstico exato, preferi considerar que posso ter me condicionado a agir dessa forma.
Meu desafio era montar uma estratégia pessoal para superar a pressa sem recorrer a remédios. Ao conversar com outras mulheres sobre o problema, ouvi relatos de farmacodependência (pacientes que na busca pelo controle da ansiedade não conseguiam mais dormir sem remédios), auto-medicação ou o “clube do remédio”, quando uma amiga passa fórmulas para outra. Artificialmente serenas, elas consideravam irrelevantes efeitos colaterais como a diminuição da libido, quase uma unanimidade. Isso prejudicava relações afetivas. Para evitar brigas homéricas com parceiros, pais, filhos e quem mais passasse à frente, as mulheres estavam pagando qualquer preço.