terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Mãos na terra

“Afagar a terra, conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação
E fecundar o chão”
(“Cio da Terra”, Milton Nascimento e Chico Buarque)



Representando abundância e fertilidade, a terra é um elemento poderoso que, entre outras coisas, nos ajuda na busca pela tão necessária calma. Simplesmente pisá-la com pés descalços, sentir seu cheiro após a chuva, nos faz parar por um momento e deixar de ser isto ou aquilo para assumirmos apenas a condição de seres vivos. Se a vida humana começa na água, termina na terra para ressurgir em outras formas. Mãe generosa, recebe e transforma, nutre e desenvolve.

Sugiro então que você arregace as mangas e procure um pedacinho de terra. Nem precisa ser quintal ou sítio. Basta um vaso. Plante ali o que quiser: de uma horta para colher alimentos para o estômago a um jardim de rosas, que alimenta a alma. Pode ser apenas um pé de feijão, uma árvore que se tornará frondosa ou uma muda de manjericão. Basta a semente da fruta que você acabou de comer, o pedaço do caule com raiz de uma salsa que ia para o lixo, aqueles envelopes de sementes que se encontra no supermercado ou saquinhos com plantas nas feiras livres. Uma folha de begônia ou de violeta é capaz de se multiplicar e algumas espécies de plantas pegam por galho, inclusive a roseira.

Cuide bem do seu pequeno agroprojeto. Sol, água e adubo são imprescindíveis, nas quantidades recomendadas a cada espécie. Ah, e paciência. Aí entra o treino contra a pressa. Nada na natureza acontece fora de época, há tempo para tudo. Então se prepare para todo dia visitar sua planta com aquela expectativa e... Nada. Até que um dia, quando você já nem achava mais que ela brotaria ou daria flores, descobre um minúsculo botão, uma folhinha, um pedacinho de vida. É como uma gravidez - o ultrassom revelando aquele pequeno ser, do tamanho de um grão de feijão, implantado no útero.

E o prazer vai aumentando à medida que a muda cresce: imagine saborear uma salada com verduras direto da horta, uma sopa com legumes frescos, temperar a comida com ervas verdes ou uma suculenta fruta. Tudo orgânico, sem agrotóxicos. Diz se não tem uma energia diferente...

Outro exercício relacionado à terra pode ser esculpir em argila, modelar a massa disforme e criar o que quiser. Liberte-se como na infância, sem autocrítica e julgamentos. São atividades simples que produzem um efeito terapêutico excelente, aumentando nossa qualidade de vida.

Que o ser humano tenha sensibilidade para amar a natureza, em seus pequenos detalhes. E a terra, que dá nome do nosso planeta água, nos inspire a sermos mais generosos e desapegados a cada estação.

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