“Eu não tenho compromisso, eu sou biscateiro. Que leva a vida como um rio desce para o mar. Fluindo naturalmente como deve ser. Não tenho hora de partir, nem hora de chegar” (Milton Nascimento e Fernando Brant)
Turista em férias é um problema. Não tem pressa pra nada, acha legal ficar na fila do pão, não se importa com congestionamentos e o pior, tudo com aquele ar relaxado e com um irritante sorriso no rosto. E você, em pleno dia de trabalho, correndo para não ter descontado o atraso no fim do mês, com o horário apertado para levar as crianças na escola, querendo sair logo do banco para finalmente chegar em casa... Rrrhuuuu... Sim, você chega a rosnar, mas ele não está nem aí. Se é temporada de verão, ainda chega ao cúmulo de exibir o maior bronze de praia que faz sua pele pálida feito uma azeitona com anemia parecer ainda mais desbotada.
Aí chega o dia em que você sai de férias. (A propósito: você faz isso de vez em quando, não faz? Tipo, na última década?) Lá, numa Campos de Jordão cheia de gente, você exibe aquele mesmo ar relaxado e o sorriso no rosto, sem se importar com os bares sem lugar para tomar um simples capuccino, em ter que esperar na fila para entrar naquele restaurante badalado, com o preço nas alturas do cachecol verde flúor (última moda que seu armário vai a-do-rar usar), com os quilos a mais de tanto chocolate. Enfim, você virou turista. Esqueceu até o relógio!
Férias é isso: relaxamento. Não abra mão deste prazer. É uma tortura na hora de arrumar e desarrumar as malas, mas compensa cada minuto ver novas paisagens, pessoas diferentes, ouvir sotaques distantes, descobrir coisas inusitadas e ousar. Em estado normal você nunca pularia de pára-glider, nem assumiria que não entende nada de mapas rodoviários, mas como turista você pode tudo (menos jogar lixo na rua).
Saem de cena o paletó e a gravata, o escarpin e o tailleur. Aquela bermuda cáqui e o chapéu de Indiana Jones são bem melhores. Tênis, camisetas, vestidinhos, a canga rosa-choque e a sunga com estampa de onça... Onde mais você usaria?
Em viagens, as pessoas mudam completamente. Saem do normal. São outras. E na volta, apesar da tristeza em se despedir do período zen, trazem na bagagem muitas fotos, lembranças e aquela pontinha de saudade de voltar à velha rotina. Que nem parece a mesma porque você já nem se importa com a fila do pão, do banco, da saída da Cidade... A vida segue seu curso, lenta...
Férias são sinônimos de oxigenação, renovação: tudo de bom!
ResponderExcluirMas comigo tem sempre o efeito que chega depois de uns 15 dias de férias....tipo "não aguento mais, quero minha casa, meu trabalho, minha rotina".
E tudo é questão de ponto de vista, não? Quando são eles que estão de férias, somos nós os transtornados pelo tumulto. Mas quando nós somos os curtidores, tudo podemos, afinal é férias!
É complicado entender às vezes o clima de "pode tudo" na temporada de verão (do tipo "sua alegria me incomoda"). Mas, apesar de me sentir invadido nessas épocas, procuro ver sempre pelo lado positivo: é a cidade com mais vida, principalmente a noite. São rostos novos, gente nova. Vida, vida.
Beijo!