"Só não se perca ao entrar
no meu infinito particular"
(Marisa Monte)
Tem gente com fixação no corpo. Não dispensa um espelho. Monitora o peso diariamente e, a cada grama a mais, arranca os cabelos. Passa horas puxando ferro. Investe muito em cremes e roupas (para não dizer sapatos...ah, doce mania a de colecionar esses fetiches), é leitor compulsivo de revistas sobre moda e beleza. Quem não se identificou com uma dessas situações que atire a primeira pedra. Sim, qualquer semelhança não é mera coincidência: passamos muito do nosso tempo preocupados com a imagem refletida num banheiro ou nos comentários dos outros. Isso gera ansiedade, descontentamento e frustração quando a imagem que projetamos não corresponde ao que queremos. E será que nos entendemos?
O desafio das pessoas num mundo voltado para a exibição pública, em que o conceito de beleza é delineado pela moda e condena mulheres ao padrão socialmente imposto da fórmula alta+magra+loura de cabelos lisos=sucesso, talvez seja voltar os olhos para o que está em nosso interior.
Ouvindo a música "Infinito Particular", pensei em escrever este texto como uma reflexão sobre o olhar interior. Sabemos identificar se a maquiagem está perfeita, mas não conseguimos saber se há uma ameaça à saúde ou à vida em nossa cabeça, por exemplo. Ignoramos por completo o que se passa dentro do nosso corpo, seus fenômenos bioquímicos, o que só é possível com check ups regulares, exames e avaliações médicas. E quem quer perder tempo com coisas chatas assim? Então postergamos as consultas; ah, deixa pra depois, vai...
E quanto à saúde mental? Nos conhecemos a ponto de notar uma nova estria na cintura, mas não entendemos nossas necessidades mais íntimas, aquelas guardadas no inconsciente, no arquivo interno do nosso hardware. E lá em algum ponto de um dia ensolarado e azul adentramos, em cima de uma maca, numa Unidade de Terapia Intensiva, para mergulharmos num estranho infinito. Ou surtamos - quantos pacientes psiquiáricos deram pistas despercebidas de que algo não ia bem? Na correria do cotidiano, passam batidos aspectos psicossociais da nossa vida. Não são tangíveis e visíveis.
Apocalíptico demais? Talvez. Mas acho que devemos perseguir esse objetivo: olhar para dentro, seja lá como for. Sinto até um pouco de medo ao tentar esse exercício - afinal, não sei o que posso encontrar... Quem sabe isso explique que é muito mais fácil ficar feliz com um corpo escultural do que ser feliz com uma mudança radical na vida, se for isso que se queira de fato. É mais gostoso tragar um cigarro e saborear a gordura da picanha do que conferir que a taxa de colesterol está normal.
Tento arrumar minha mochila e rumar para uma exploração interna, como uma aventureira na difícil expedição de saber quem eu sou e como estou.
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