“Vem de lá
Nenhum lugar
Espaço além, do coração
Vem na luz do sol
O vento traz
Nudez de tal revelação”
(“Anjo Bom”, Flávio Venturini)
Afinal, corremos para quê? Esta é a pergunta que me faço diante de tragédias como a do Haiti. Ali, entre escombros, vidas soterradas. Pessoas que até o terremoto acontecer trabalhavam, estudavam, levavam seu cotidiano normalmente, quem sabe felizes. E que hoje choram seus mortos, perambulam entre prédios destruídos, sentam no chão e tentam buscar recursos, do fundo da alma, para se recompor e curar feridas que talvez nunca cicatrizem.
Estamos sempre apressados e passamos pela vida como zumbis, sem prestar atenção ao presente, a quem está do nosso lado, a pequenas alegrias, tão discretas e frágeis que se perdem no mar agitado dos nossos pensamentos. E eis que um dia algo acontece, ou não. O diagnóstico de uma doença grave, a morte de um ente querido, um trauma ou uma tragédia que nos faça parar. Reparem que sobreviventes dão um valor muito maior à vida, mudando completamente de atitude. Tornam-se pessoas melhores. Não precisamos passar por isso para revolucionar nossa vida.
Recentemente assisti a um vídeo em que o palestrante discorria sobre felicidade e comparava ganhar na loteria a se tornar um paraplégico. Claro que ninguém quer ficar sem os movimentos das pernas e todos querem ter dinheiro o bastante para realizar seus sonhos, mas, segundo ele, nas pessoas estudadas, algum tempo depois o nível de felicidade nos dois casos era o mesmo. O palestrante atribuía isso ao fato de nos contentarmos com o que temos se não tivermos escolhas. Quando temos muitas opções, tendemos a não nos satisfazermos nunca, como alguém que, por ter tudo, não encontra felicidade em nada, condenado a uma eterna busca por mais e mais.
As câmeras de tevê nos mostram que as pessoas no Haiti que sobreviveram ao terremoto não têm escolhas. A vida foi o que lhes restou, e só. Para muitos, isso basta. Vejo num site a foto de um soldado espanhol entregando uma criança de dois anos à mãe. O soldado exibe um sorriso triste, como que escurecido pelo pesar das cenas horríveis que viu. A criança também não sorri abertamente, apenas seus olhos, negros e grandes, traduzem o contentamento de ter a mãe ali tão próxima. Não se pode ver a expressão da mãe porque ela está de costas, mas sua mão, indo ao encontro do rosto do filho, sorri por ela, com ternura e paz.
A mesma paz que marcou a trajetória da amada Zilda Arns neste mundo. Aos 75 anos, morreu de forma heróica, lutando pelo que acreditava, mas viveu de forma ainda mais heróica, salvando vidas com receitas simples de uma mistura de farelo de cereais e de água com sal e açúcar. Um anjo lindo que passou pela Terra espalhando justiça e solidariedade.
Vamos parar um pouco, fazer um minuto de silêncio em respeito aos que se foram e em homenagem aos bravos que tentam viver em meio ao caos. E que este silêncio se prolongue por nossas mentes inquietas, corações ansiosos e pernas apressadas.
Devemos dar graças a Deus pelo que temos, ter a humildade de aceitar o que não podemos mudar e amar muito. Porque nesta vida, só o amor importa. O amor de Zilda Arns pelas crianças pobres, o amor daquela mãe ao reencontrar o filho, o amor do soldado que enfrenta o perigo para resgatar desconhecidos que falam outra língua e o amor que temos para mudar o mundo ao nosso redor.
Quanto sofrimento ao povo do Haiti. País onde a maior parte da população vive abaixo da linha da miséria, assolado por guerras civis entre grupos que buscam o poder. Poder do quê?
ResponderExcluirAgora dois terremotos devastadores: um natural e outro praticado por um consul sem nenhuma sensibilidade. Me pergunto: O que precisa para ser nomeado "consul"? Este inergumeno declarou que "onde existem africanos, existem catastrofes. Deve ser castigo" Absurdo total. E este cara está no BRASIL, é mole. Zilda Arns estava lá, em Porto Principe, tentando levar aquela gente um pouco das maravilhas que fez aqui no Brasil. Estava de braços com um padre que se salvou sem um arranhão dando um passo para o lado direito. Zilda Arns deu um paço para o lado esquerdo, rumo ao paraíso que certamente encontrou.
Que Deus abençoe o povo do Haiti.
Que Deus abençoe o povo do Haiti, para que se recomponha desta tragédia, e a todos nós, para sermos mais evoluídos espiritualmente. Que tenhamos mais Zildas Arns pelo mundo e menos gente que fala asneiras como este cônsul do Haiti no Brasil.
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