Adoro contos. Quanto mais curtos, melhor. E para quem, como eu, aprecia narrativas breves, uma boa dica é o livro de Edson Rossatto, "Cem Toques Cravados".
São cem nanocontos com exatos cem toques, como promete o título. Em três linhas, nos fazem rir, pensar, lamentar, amar. A proposta é muito interessante.
Meu exemplar, mais antigo, foi publicado pela editora Andross, em 2010. A segunda edição vem ampliada, com 500 contos, pela Europa Editora.
Uma leitura leve, muitas vezes profunda, ideal para qualquer lugar, a qualquer tempo - no elevador, ônibus, metrô, banco de praça, numa pausa de almoço... - e perfeita para quem tem pressa.
Formado em Letras, Rossatto atua como escritor, editor de livros e roteirista de HQ.
Mulher-urgente: como sobreviver numa era em que a pressa dita as regras?
Nem sei desde quando sou assim, cheia de pressa. Talvez porque tenha sido uma criança dispersa e lenta ou por ter escolhido o jornalismo como profissão. Quem sabe por viver nessa era de coisas curtas, instantâneas. Não sei. O fato é que sou o que um grande amigo me apelidou: a Mulher-urgente. Urgente por botar pra fora toda essa inquietação imaginativa. Urgente por viver porque a escrita nada mais é que a vida, em suas múltiplas feições.
quarta-feira, 10 de agosto de 2016
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Chimamanda Adichie
Conheci Chimamanda Ngozi Adichie pelo Youtube, falando sobre os perigos de uma história única. E aquela imagem linda da mulher monumental, segura, negra, me marcou bastante porque, como branca brasileira, cresci tentando me livrar de preconceitos raciais e sexistas numa nação que se diz isenta deles por ser multirracial, mas principalmente do preconceito econômico, que define as pessoas pelo que elas tem. Meu pai era mecânico; minha mãe, dona-de-casa. Era filha única de uma família que sofria todas as dificuldades da falta de dinheiro. Meu passatempo, ler os livros empoeirados da estante da minha avó e escrever, que não custava nada, além de fantasiar vidas diferentes com minhas bonecas.
Ouvindo a voz grave e aconchegante de Chimamanda, ouvindo-a dizer que foi uma leitora precoce, dos personagens brancos de olhos azuis que viviam na neve dos romances que ela lia, tão diferentes da sua raça e da realidade de seu país, a Nigéria, percebi o quanto tínhamos em comum. Meus heróis, homens quase todos, ostentavam a liberdade que não havia para mim, concentravam um poder mágico que nunca me fora dado. Aceitava as palavras porque intuía que elas seriam minha redenção, a única saída para os limites claustrofóbicos da minha herança familiar em que ninguém, até então, cursara uma faculdade. Família de mulheres subjugadas, cujos sonhos tinham sido destruídos pelos rígidos papeis sociais, papeis que colocavam as mulheres na cozinha, emparedava-as dentro da prisão que se chamava lar. Mulheres que comentavam: "Na outra encarnação, quero nascer homem". E de homens sobrecarregados, exauridos, condenados a subir e descer montanhas carregando pesos nas costas como eternos Sísifos. Não havia espaço para sinergia e união, homens e mulheres divididos.
A história única de pessoas cativas a seus papeis sociais me revoltava. Tentei fazer diferente, tento um olhar diferente para meus três filhos, refazer essa história, mas quase sempre caio na vala da repetição de padrões. Por que homem não lava louça? Por que não posso me sentir sensual sem parecer errada? Por que, sempre que alguém me elogia, tenho que baixar os olhos? Por que uma mulher sozinha não pode ir a certos lugares? Por que é tão raro um homem adotar o sobrenome da esposa, trocar fralda de bebê e chorar quando está triste? E a maior de todas as perguntas: por que meu pai queria tanto que eu nascesse homem?
Foi neste espírito inquiridor que li um livro curtinho, de pouco mais de cinquenta páginas, publicado pela Companhia das Letras, intitulado "Sejamos todos feministas". De Chimamanda. Trata-se de um um discurso (pode ser visto no Youtube, como palestra no TED), ensaio simples até, para quem leu a densa Simone de Beavouir e outras escritoras filosóficas que abordam o tema, mas muito útil para discutirmos a questão de gênero, partindo de reflexões rotineiras num tom autobiográfico da autora de "Hibisco Roxo" (que comprei e espero ler em breve).
"Gênero e classe são coisas diferentes. Um homem pobre pode ainda ter os privilégios de ser homem, mesmo não tendo o privilégio da riqueza", cita a autora. Mais adiante, pondera: "A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura". Questões assim, elementares, devem ser debatidas por seres humanos. Aceitarmos as histórias únicas nunca nos fará felizes. Elas estão em nós.
Não pretendi ser rica para compensar as limitações da infância, mas sempre persegui a igualdade entre os sexos, a justiça e o respeito. Subindo e descendo montanhas com meus pesos, como meu pai interior. Lamentando essa sensação de incompletude, como minhas ancestrais. Sinto alento nas palavras de Chimamanda.
Espero, um dia, me libertar da obsessão de ter de ser o menino que não fui para a mágica acontecer, de ter de lutar contra essa feminilidade tão estigmatizada, banir as vozes do ninguém que ditam o que devo ser e fazer. Espero que meus filhos vivam com leveza e alegria, como creio que todas as pessoas devem ser. Por isso, escrevo. Por isso, leio. Por isso, penso. Num esforço contínuo de superação rumo à minha verdadeira essência.
Ouvindo a voz grave e aconchegante de Chimamanda, ouvindo-a dizer que foi uma leitora precoce, dos personagens brancos de olhos azuis que viviam na neve dos romances que ela lia, tão diferentes da sua raça e da realidade de seu país, a Nigéria, percebi o quanto tínhamos em comum. Meus heróis, homens quase todos, ostentavam a liberdade que não havia para mim, concentravam um poder mágico que nunca me fora dado. Aceitava as palavras porque intuía que elas seriam minha redenção, a única saída para os limites claustrofóbicos da minha herança familiar em que ninguém, até então, cursara uma faculdade. Família de mulheres subjugadas, cujos sonhos tinham sido destruídos pelos rígidos papeis sociais, papeis que colocavam as mulheres na cozinha, emparedava-as dentro da prisão que se chamava lar. Mulheres que comentavam: "Na outra encarnação, quero nascer homem". E de homens sobrecarregados, exauridos, condenados a subir e descer montanhas carregando pesos nas costas como eternos Sísifos. Não havia espaço para sinergia e união, homens e mulheres divididos.
A história única de pessoas cativas a seus papeis sociais me revoltava. Tentei fazer diferente, tento um olhar diferente para meus três filhos, refazer essa história, mas quase sempre caio na vala da repetição de padrões. Por que homem não lava louça? Por que não posso me sentir sensual sem parecer errada? Por que, sempre que alguém me elogia, tenho que baixar os olhos? Por que uma mulher sozinha não pode ir a certos lugares? Por que é tão raro um homem adotar o sobrenome da esposa, trocar fralda de bebê e chorar quando está triste? E a maior de todas as perguntas: por que meu pai queria tanto que eu nascesse homem?
Foi neste espírito inquiridor que li um livro curtinho, de pouco mais de cinquenta páginas, publicado pela Companhia das Letras, intitulado "Sejamos todos feministas". De Chimamanda. Trata-se de um um discurso (pode ser visto no Youtube, como palestra no TED), ensaio simples até, para quem leu a densa Simone de Beavouir e outras escritoras filosóficas que abordam o tema, mas muito útil para discutirmos a questão de gênero, partindo de reflexões rotineiras num tom autobiográfico da autora de "Hibisco Roxo" (que comprei e espero ler em breve).
"Gênero e classe são coisas diferentes. Um homem pobre pode ainda ter os privilégios de ser homem, mesmo não tendo o privilégio da riqueza", cita a autora. Mais adiante, pondera: "A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura". Questões assim, elementares, devem ser debatidas por seres humanos. Aceitarmos as histórias únicas nunca nos fará felizes. Elas estão em nós.
Não pretendi ser rica para compensar as limitações da infância, mas sempre persegui a igualdade entre os sexos, a justiça e o respeito. Subindo e descendo montanhas com meus pesos, como meu pai interior. Lamentando essa sensação de incompletude, como minhas ancestrais. Sinto alento nas palavras de Chimamanda.
Espero, um dia, me libertar da obsessão de ter de ser o menino que não fui para a mágica acontecer, de ter de lutar contra essa feminilidade tão estigmatizada, banir as vozes do ninguém que ditam o que devo ser e fazer. Espero que meus filhos vivam com leveza e alegria, como creio que todas as pessoas devem ser. Por isso, escrevo. Por isso, leio. Por isso, penso. Num esforço contínuo de superação rumo à minha verdadeira essência.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Somos sonhos
"E a vida.
E a vida o que é,
diga lá meu irmão"
(Gonzaguinha)
E a vida o que é,
diga lá meu irmão"
(Gonzaguinha)
Quando vi a A. pela última vez notei que estava distante.
Ela sorriu. Eu apresentei minha mãe e, diante daquele rosto que me pareceu apagado, me
senti culpada por sorrir com entusiasmo, por minhas cores e por minha luz. Ela
estava no fim de uma batalha ganha pelo câncer. Eu não sabia, mas senti. Da
mesma forma que senti a presença da morte em outras situações, apenas pela
energia ao redor da pessoa, às vezes pelo olhar. Guardo na memória cada um.
Em menos de um mês, perdi três pessoas queridas. Não eram
próximas, nem podia chamar de amigos se a definição de amizade pressupõe
visitas domiciliares e conversas íntimas. Cada uma morreu de um jeito, mas as
três ainda jovens. E fica sempre o vazio. Aquele vácuo, aquela sensação de
irreversibilidade, de fragilidade, de que estamos nas mãos de algo maior que
define tudo que acontece conosco, desde a vontade de ir ao banheiro ao desejo
sexual. Não temos controle sobre absolutamente nada dentro e fora do nosso
corpo e somos, na realidade, seres pequenos, fracos e vulneráveis. O
livre-arbítrio é um sonho.
Alguém disse que viver é estar num campo de batalha em que
outras pessoas são atingidas e não se pode parar para socorrê-las, apenas
seguir. Isso é muito triste. Essa definição de vida e morte eu não quero,
embora sinta é que bem por aí. Você vê seu próximo morrer, enxuga as lágrimas e
segue.
Reflito muito, leio mais ainda e chego à conclusão que
gramática nenhuma me salvará. Palavras são apenas isso: signos, símbolos, teorias,
códigos que fortalecem nossa fantasia de controle. Precisamos construir
muralhas, construir nosso mundinho seguro e tanto a escrita como tudo o mais
são ferramentas úteis. Sair para o trabalho todos os dias, dirigir o carro do
ano, vestir as mais lindas roupas ou só guardá-las para uma ocasião melhor - o
que é pior, consumir, ler mais e mais, tudo isso é ficção.
Real mesmo é aquilo que não tem valor neste mundo de ilusão.
É a energia das pessoas e dos animais, é respirar, sentir a água gelada da cachoeira,
é o que se faz naturalmente, sem intervenção humana. Porque tudo que o homem
mexe se transforma numa cópia de quinta categoria, uma tentativa patética de
ser Deus.
Dizem que o Diabo foi um anjo que quis se tornar Deus. Acho
que ele mora em cada ser humano que quer interferir na natureza e recriar o
mundo segundo suas próprias normas de conduta. Estou cheia das regras humanas,
quero e anseio pela liberdade. Quase sempre me sinto em meio a uma multidão que
me leva como numa correnteza de pensamentos, hábitos, leituras, tarefas que não
tem fim nunca, ou só com a morte. Aí é o fim.
E que ilusão acharmos que viveremos do mesmo jeito em outra
esfera! Somos sonhos. Somos filhos do mistério da vida e da morte. Não sabemos
nada além da nossa quase sempre medíocre rotina de todos os dias. Não temos
controle de nada, podemos ter um AVC isquêmico e viver vegetando num leito de
hospital. Podemos bater com o carro. Podemos abrir o exame e ver lá uma doença
fatal. Um vírus pode nos derrubar. Ora é nosso cérebro que nos controla, ora
nossos hormônios, ora nossa história e cultura.
Não criamos tempo para o mais importante: amar e sentir a
vida pulsando em nós enquanto a temos! Quantos anos nós passamos em salas de
aula quando deveríamos fazer como os índios, sair por aí com o calor do sol na
pele, deixando a vida entrar pelo nariz? Aprender em praça livre, ouvindo filósofos. Obrigamos nossos filhos a esse sistema educacional opressor, o que
me lembra daquela cena do clipe “The Wall”, do Pink Floyd, em que os estudantes
seguem em marcha para a máquina de moer carne, como em transe. Não temos tempo
para quem amamos, nem para parar o turbilhão de pensamentos que nos atordoam e
nos amortecem. Não temos tempo para nos
sentir!
A morte de A. me fez perceber que a vida se extingue a cada
segundo como um relógio de areia. Lembro dela com seu lenço na cabeça, seu
sorriso discreto que se iluminava conforme ia falando, seu olhar forte, seguro,
maduro demais. Lembro dela falando sobre história e livros, ioga e os desafios
de ser mulher e mãe, falando sobre infância e que sua mãe que a deixava fazer tudo
e que, no fundo, queria que ela fosse igual às mães das outras meninas. Observo
agora que ela não tinha aquela compulsão por falar de si – ela ouvia em
silêncio também, sabia ouvir os outros. Penso que poderíamos ter sido grandes
amigas, se houvesse mais tempo.
Tudo o que eu queria fazer agora era correr para junto dos meus
filhos, do meu marido, da minha mãe e da minha irmã, dos meus amigos, das pessoas que eu mais amo
no mundo. Mas o que eu posso fazer agora é só pensar nelas, pedir a Deus que as
proteja, e me entregar ao meu algoz: o tempo dessa civilização que nos
escraviza com seus padrões e nos impede de sermos somente, e tão somente, mortais.
sábado, 14 de janeiro de 2012
Mente, essa criança agitada
"Olha aí, monsieur Binot
Aprendi tudo o que você me ensinou
Respirar bem fundo e devagar
Que a energia está no ar"
("Monsieur Binot", Joyce)
Acendi três incensos, acho que empolgada com esse vento quente (noroeste) que eu adoro. Encarei a louça cheia na pia e resolvi por em prática a autoconsciência, que é a síntese do livro que estou lendo, chamado "Desacelere!". O título já dá uma dica que, claro, é para me deixar mais calminha. Ah, e estou de férias. Duas semanas, uma correria que não diminui por conta das demandas do lar, que não são poucas com três filhos.
Respirei fundo, ensaboei a esponja com um detergente novo, de algas, e procurei focar no universo daquela experiência. Procurei senti-la, com os cinco sentidos. Parece fácil. Definitivamente não é. Cada vez que eu mergulhava na água que jorrava da torneira, sentindo a espuma nas mãos e a superfície lisa dos pratos e copos, ou o telefone tocava, ou meu filho chorava, o outro brigava, enfim. Saía e voltava repetidas vezes e, claro, explodia de raiva. Nem se eu fosse uma monja (?) tibetana eu conseguiria manter a paz. Aliás, religiosas não têm filhos, hellooooo....
Lavei a louça, com a autoconsciência colocada perto da lixeira, e a contragosto sentei para escrever, antevendo a próxima briga entre as crianças e o próximo tocar de telefone. Pensei que a vida é uma experiência rica se você conseguir focar no presente. Nada mais existe além do presente, todo mundo sabe disso - o futuro é uma abstração e o passado já foi - é a mesma ladainha. Mas colocar isso em prática exige não apenas uma disciplina treinada para isso (e horário para fazer meditação?) como uma vida diferente, sem tantas obrigações, num ritmo simples, tipo uma casinha no campo. Na cidade, na velocidade atroz do mundo cibernético, no compasso das múltiplas obrigações, só nos resta viver da pior forma: longe.
Na semana passada assisti ao filme "Dançando no Escuro", com a Björn no papel principal. Ela faz uma moça simples, deficiente visual, que foge da realidade fantasiando musicais. Na fábrica onde trabalha, os sons das máquinas dão o timbre certo para as coreografias, é incrível. Ela, ao mesmo tempo, está perto demais do presente, prestando atenção nas nuances dos sons que passavam batido por ouvidos distraídos, e tão longe, imaginando o que não existe a ponto de se machucar num acidente de trabalho.
Penso que muitos dos nossos problemas têm raiz na inconsciência: do parcelamento das compras no cartão de crédito que nos endivida ao enfarto provocado pela falta de cuidado com a saúde. No livro, o autor diz algo interessante: do corpo, só prestamos atenção do pescoço para cima; no restante, só quando necessitamos atender necessidades básicas.
Estou de férias, sim, mas minha cabeça já está na volta ao trabalho, em quem está cuidando do que eu cuido, em com quem ficarão as crianças, em como vou pagar minhas faturas. E aí penso que a nossa mente parece uma criança pequena, hiperativa e indisciplinada. Cada vez que tento estar no presente, ela foge e preciso pegá-la pelo braço e colocá-la no lugar. Ela não pára! No livro diz que temos que ser amorosos com ela, conduzi-la pela mão cada vez que ela sair correndo, acalmá-la cada vez que fantasiar um medo, afagá-la nessa volta à realidade. A conexão é respirar fundo, como diz a tranquila Joyce na canção.
Bem, estou tentando. Aos tropeços, sim. Mas estou tentando.
(PS: Não ligue para eventuais erros. Não revisei o texto, OK?)
Aprendi tudo o que você me ensinou
Respirar bem fundo e devagar
Que a energia está no ar"
("Monsieur Binot", Joyce)
Acendi três incensos, acho que empolgada com esse vento quente (noroeste) que eu adoro. Encarei a louça cheia na pia e resolvi por em prática a autoconsciência, que é a síntese do livro que estou lendo, chamado "Desacelere!". O título já dá uma dica que, claro, é para me deixar mais calminha. Ah, e estou de férias. Duas semanas, uma correria que não diminui por conta das demandas do lar, que não são poucas com três filhos.
Respirei fundo, ensaboei a esponja com um detergente novo, de algas, e procurei focar no universo daquela experiência. Procurei senti-la, com os cinco sentidos. Parece fácil. Definitivamente não é. Cada vez que eu mergulhava na água que jorrava da torneira, sentindo a espuma nas mãos e a superfície lisa dos pratos e copos, ou o telefone tocava, ou meu filho chorava, o outro brigava, enfim. Saía e voltava repetidas vezes e, claro, explodia de raiva. Nem se eu fosse uma monja (?) tibetana eu conseguiria manter a paz. Aliás, religiosas não têm filhos, hellooooo....
Lavei a louça, com a autoconsciência colocada perto da lixeira, e a contragosto sentei para escrever, antevendo a próxima briga entre as crianças e o próximo tocar de telefone. Pensei que a vida é uma experiência rica se você conseguir focar no presente. Nada mais existe além do presente, todo mundo sabe disso - o futuro é uma abstração e o passado já foi - é a mesma ladainha. Mas colocar isso em prática exige não apenas uma disciplina treinada para isso (e horário para fazer meditação?) como uma vida diferente, sem tantas obrigações, num ritmo simples, tipo uma casinha no campo. Na cidade, na velocidade atroz do mundo cibernético, no compasso das múltiplas obrigações, só nos resta viver da pior forma: longe.
Na semana passada assisti ao filme "Dançando no Escuro", com a Björn no papel principal. Ela faz uma moça simples, deficiente visual, que foge da realidade fantasiando musicais. Na fábrica onde trabalha, os sons das máquinas dão o timbre certo para as coreografias, é incrível. Ela, ao mesmo tempo, está perto demais do presente, prestando atenção nas nuances dos sons que passavam batido por ouvidos distraídos, e tão longe, imaginando o que não existe a ponto de se machucar num acidente de trabalho.
Penso que muitos dos nossos problemas têm raiz na inconsciência: do parcelamento das compras no cartão de crédito que nos endivida ao enfarto provocado pela falta de cuidado com a saúde. No livro, o autor diz algo interessante: do corpo, só prestamos atenção do pescoço para cima; no restante, só quando necessitamos atender necessidades básicas.
Estou de férias, sim, mas minha cabeça já está na volta ao trabalho, em quem está cuidando do que eu cuido, em com quem ficarão as crianças, em como vou pagar minhas faturas. E aí penso que a nossa mente parece uma criança pequena, hiperativa e indisciplinada. Cada vez que tento estar no presente, ela foge e preciso pegá-la pelo braço e colocá-la no lugar. Ela não pára! No livro diz que temos que ser amorosos com ela, conduzi-la pela mão cada vez que ela sair correndo, acalmá-la cada vez que fantasiar um medo, afagá-la nessa volta à realidade. A conexão é respirar fundo, como diz a tranquila Joyce na canção.
Bem, estou tentando. Aos tropeços, sim. Mas estou tentando.
(PS: Não ligue para eventuais erros. Não revisei o texto, OK?)
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
Sinais de que estou ficando velha
"Feliz aniversário. Envelheço na cidade" (Ira!)
• prioridade nas compras do mês: tinta para cabelo
• adotei as luzes, a um passo de ficar loira
• comprei um creme antiidade, 40+
• estou lendo um livro chamado “Meu Pescoço é um Horror”
• e, claro, nunca esqueço filtro solar (nas mãos, que elas entregam), creme para área dos olhos, para o contorno dos lábios, para pescoço...
• aprendi a acenar como uma miss
• começo a pensar em fazer musculação para evitar osteoporose
• e para voltar a dar tchau sem se preocupar com o braço
• ando ouvindo uma rádio chamada saudade
• e a apreciar o rei Roberto Carlos
• quando começo a falar das minhas bandas preferidas, ninguém nunca ouviu falar de Spandau Ballet, Ice House e Roxy Music
• me assustei com o Gene Simmons, do Kiss (lembra?), que era meu ídolo
• comprei o CD do Plunct-Plact-Zum
• ainda guardo minha máquina de escrever em casa, máquina de fotografar com filmes, disco de vinil, fita-cassete e disquete (poderia abrir uma loja de antiguidades)
• digo “alugar uma fita” em vez de “alugar um DVD”
• não tenho paciência para novela de hoje – boas mesmo eram “Roque Santeiro” e “O Bem Amado”
• sorry, mas redes sociais me cansam
• aumentei o consumo de soja e leio tudo sobre reposição hormonal
• começo a pensar nas coisas boas da menopausa e me livrar de vez da TPM
• escrevo certinho na internet
• abandonei a praia
• abandonei a piscina, exceção feitas às mornas e com ozônio
• definitivamente não entendo nada das últimas tecnologias
• aprendi a diagramar por “past up”
• meu filho está na faculdade
• nasci na década de 70
• me formei em 93
• já começo a falar “no meu tempo...”
• a palavra “tia” soa bem mais frequente
• logo, logo ouvirei um “vó”
• prioridade nas compras do mês: tinta para cabelo
• adotei as luzes, a um passo de ficar loira
• comprei um creme antiidade, 40+
• estou lendo um livro chamado “Meu Pescoço é um Horror”
• e, claro, nunca esqueço filtro solar (nas mãos, que elas entregam), creme para área dos olhos, para o contorno dos lábios, para pescoço...
• aprendi a acenar como uma miss
• começo a pensar em fazer musculação para evitar osteoporose
• e para voltar a dar tchau sem se preocupar com o braço
• ando ouvindo uma rádio chamada saudade
• e a apreciar o rei Roberto Carlos
• quando começo a falar das minhas bandas preferidas, ninguém nunca ouviu falar de Spandau Ballet, Ice House e Roxy Music
• me assustei com o Gene Simmons, do Kiss (lembra?), que era meu ídolo
• comprei o CD do Plunct-Plact-Zum
• ainda guardo minha máquina de escrever em casa, máquina de fotografar com filmes, disco de vinil, fita-cassete e disquete (poderia abrir uma loja de antiguidades)
• digo “alugar uma fita” em vez de “alugar um DVD”
• não tenho paciência para novela de hoje – boas mesmo eram “Roque Santeiro” e “O Bem Amado”
• sorry, mas redes sociais me cansam
• aumentei o consumo de soja e leio tudo sobre reposição hormonal
• começo a pensar nas coisas boas da menopausa e me livrar de vez da TPM
• escrevo certinho na internet
• abandonei a praia
• abandonei a piscina, exceção feitas às mornas e com ozônio
• definitivamente não entendo nada das últimas tecnologias
• aprendi a diagramar por “past up”
• meu filho está na faculdade
• nasci na década de 70
• me formei em 93
• já começo a falar “no meu tempo...”
• a palavra “tia” soa bem mais frequente
• logo, logo ouvirei um “vó”
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Cura das Atitudes
Estava ouvindo música no carro, achei um CD gravado pela jornalista Mirna Grizch e achei bacana colocar aqui para todos, que vivem na pressa, começarem a refletir sobre as próprias atitudes. Reproduzo, abaixo:
OS 12 PRINCÍPIOS PARA CURA DAS ATITUDES
1. A essência do nosso ser é amor
2. Saúde é paz interior. Curar é abandonar o medo
3. Dar e receber são a mesma coisa
4. Podemos nos desprender do passado e do futuro
5. O agora é o único tempo que existe, e cada instante é para nos doarmos
6. Podemos aprender a amar a nós mesmos e aos outros perdoando, ao invés de julgando
7. Podemos nos transformar em pessoas que veem o amor e o que une, em lugar de pessoas que veem o erro e o que desune
8. Podemos escolher nos direcionar para a paz interior, independente do que está acontecendo no exterior
9. Somos alunos e professores uns dos outros
10. Podemos nos concentrar na totalidade da vida e não nos seus fragmentos
11. Sendo o Amor eterno, não existe razão para temer a dor e a morte
12. Podemos sempre ver a nós mesmos e aos outros como seres que ou oferecem amor ou suplicam ajuda
OS 12 PRINCÍPIOS PARA CURA DAS ATITUDES
1. A essência do nosso ser é amor
2. Saúde é paz interior. Curar é abandonar o medo
3. Dar e receber são a mesma coisa
4. Podemos nos desprender do passado e do futuro
5. O agora é o único tempo que existe, e cada instante é para nos doarmos
6. Podemos aprender a amar a nós mesmos e aos outros perdoando, ao invés de julgando
7. Podemos nos transformar em pessoas que veem o amor e o que une, em lugar de pessoas que veem o erro e o que desune
8. Podemos escolher nos direcionar para a paz interior, independente do que está acontecendo no exterior
9. Somos alunos e professores uns dos outros
10. Podemos nos concentrar na totalidade da vida e não nos seus fragmentos
11. Sendo o Amor eterno, não existe razão para temer a dor e a morte
12. Podemos sempre ver a nós mesmos e aos outros como seres que ou oferecem amor ou suplicam ajuda
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
Metade
"Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio"
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio"
(Metade, Oswaldo Monenegro)
As minhas metades lutam para não me reconhecer como um ser ambíguo. Mas sou. E desse conflito nasce uma ansiedade capaz de tornar situações banais em quase um coma irreversível. É como se tudo dependesse daquilo naquele momento e qualquer coisa fora do previsto gerasse uma explosão atômica.
Essa semana li que o problema não são as coisas, mas o que pensamos delas. Nosso pensamento, que tanto constrói, também pode ser bem destrutivo. Também li sobre a desconstrução daquilo que alguém um dia ergueu sobre nós, muito provavelmente na infância, muito provavelmente com a melhor das boas intenções.
Por isso, metade.
Difícil encontrar nosso verdadeiro eu debaixo das muralhas sociais construídas com a argamassa de padrões, regras, repressões, o que julgam ser o certo. Às vezes, terapia ajuda. Quase sempre não funciona. Demora tanto - e consome tanto - que a gente desiste. Desiste de saber quem somos de verdade. E ficamos na dúvida se o que pensamos ser de verdade seria o real. A verdade é relativa. E pode haver muitas. Como nós, seres plurais.
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